ROMA, 22 MAR (ANSA) – O presidente da Itália, Sergio Mattarella, recebeu nesta sexta-feira (22), em Roma, o chefe de Estado da China, Xi Jinping, e defendeu a adesão de seu país à chamada “Nova Rota da Seda”, projeto trilionário que levanta preocupações nos Estados Unidos e na União Europeia.   

A Itália deve se tornar neste sábado (23) o primeiro membro do G7 e a primeira grande economia da UE a assinar um memorando de entendimento com Pequim sobre a “Belt and Road Initiative” (BRI), ou, em tradução livre, “Iniciativa do Cinturão e Rota”.   

O projeto prevê investimentos de ao menos US$ 1 trilhão pelo governo da China nos setores de infraestrutura e comunicações, para aumentar a presença do país nas novas rotas comerciais e impulsionar a economia digital. Além disso, a iniciativa é vista como uma forma de elevar o “soft power” chinês no mundo e manter índices robustos de expansão do PIB.   

“A Rota da Seda é um caminho de mão dupla, e por ela devem transitar talentos, ideias e conhecimentos, não apenas comércio”, afirmou Mattarella, após uma reunião com Xi no Palácio do Quirinale, sede da Presidência da República.   

Segundo o chefe de Estado, a contribuição italiana tem um “significado crucial” e servirá para “desenvolver uma colaboração cada vez maior e mais articulada”. “China e Itália estão empenhadas em levar adiante uma cooperação que considere a realidade econômica, a sustentabilidade ambiental, a inclusão e o respeito às regras de mercado”, acrescentou.   

Para Mattarella, o memorando fornecerá um “quadro ideal” para incrementar as relações entre empresas italianas e chinesas. Xi, por sua vez, declarou que os dois países devem “aprofundar a confiança política e a coordenação de suas ideias”. “A parte chinesa quer uma troca comercial em dois sentidos”, garantiu.   

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O memorando deve ser assinado neste sábado, durante uma reunião entre Xi e o primeiro-ministro Giuseppe Conte, apesar das pressões dos EUA e da União Europeia contra a adesão da Itália à Nova Rota da Seda.   

No encontro desta sexta, Mattarella também anunciou que 2020 será o “ano cultural e do turismo entre Itália e China, confirmando o interesse que os dois povos nutrem um pelo outro”.   

Investimentos – O acordo deve prever um amplo programa de investimentos chineses na Itália, tendo como eixo o Porto de Trieste, no nordeste da Península.   

“A antiga Rota da Seda é uma prova do compromisso dos dois povos para conseguir um futuro e um estilo de vida melhores. Operamos para reforçar as sinergias entre as respectivas estratégias de desenvolvimento, para valorizar a colaboração no setor portuário, de logística e de transportes marítimos e para construir projetos qualificados e concretos na Rota da Seda”, disse Xi.   

O governo italiano, contudo, descarta vender ativos para Pequim.   

“É uma grande oportunidade, feita com inteligência, porque a Itália terá uma grande vantagem competitiva ao exportar produtos para a China sem vender ativos”, argumentou o ministro de Infraestrutura do país, Danilo Toninelli.   

A Itália busca maneiras de reaquecer sua combalida economia, que está em recessão técnica e arrisca percorrer o ano de 2019 com sinal negativo. Apesar disso, líderes europeus defendem que as negociações com a China devem acontecer em bloco, e não individualmente, para compensar a disparidade econômica entre os países.   

Em um encontro bilateral com Conte nesta sexta, em Bruxelas, o presidente da França, Emmanuel Macron, ressaltou a necessidade de uma “coordenação europeia” caso a UE queira se mover como “potência”. “Trabalhar como pequenos clubes com a China não é uma abordagem correta”, disse, segundo fontes do Palácio do Eliseu.   

Xi será recebido por Macron na próxima terça (26), em reunião que também terá as presenças da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. (ANSA)


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