Presente na América Latina desde 1992, a HBO comemora 15 anos do início das produções locais. Se blockbusters como Game of Thrones e Westworld, produzidos pela matriz norte-americana, ainda são os atuais carros-chefes da emissora, os produtos internos, aqueles criados nos países latinos (e Brasil incluído), contudo, dialogam de outra forma com o telespectador. “O relacionamento das séries latinas com o público é diferente”, diz Luis Peraza, presidente da HBO Latin America, Networks, em entrevista, a primeira concedida à imprensa brasileira.

No Rio de Janeiro na semana passada, durante a feira RioContentMarket, Peraza acompanhou de perto o anúncio de 14 novas produções nacionais criadas pela HBO brasileira – nove delas de não ficção – e presenciou o burburinho gerado pelo projeto de talk-show liderado por Gregório Duvivier nos moldes do programa LastWeekTonight, de John Oliver, nos Estados Unidos. “Nesse tipo de projeto, o mais importante é encontrar essa figura, esse protagonista.”

Em um papo em um hotel da zona oeste da capital fluminense, o presidente da HBO latino-americana falou sobre a importância do streaming para o futuro da TV – embora a plataforma HBO Go seja ainda recente e é usada de forma diferente da Netflix, uma de suas concorrentes. Ele revela questões sobre como a TV pela internet pode ser explorada e minimizou a barreira linguística entre Brasil e América Latina quando o assunto são séries originais. “Acho que nossa audiência latina tem mais conhecimento do português por causa das séries brasileiras que exibimos na nossa programação.”

A HBO comemora 25 anos na América Latina, sendo 15 deles com produções originais em cada país. Como o Brasil se posiciona dentro disso para a emissora? Para a HBO, o Brasil é o principal mercado dentro da América Latina. E a evolução da indústria audiovisual brasileira tem me impressionado bastante. Quando eu cheguei para explorar as possibilidades, há 15 anos, não conhecia ninguém. Um dos primeiros trabalhos que fizemos foi de apresentar a ideologia da HBO para começar a receber os projetos.

Esse ‘abrir caminho’ é algo que não favorece só a HBO. É algo que afeta todo o mercado e outras emissoras, não é?

Sim, mas é ‘win, win’, uma vitória dupla. O mercado cresce, se sofistica. A concorrência melhora e, quando existe concorrência, existe ousadia, novas ideias. A HBO sempre se moveu e operou em um mercado de alta concorrência. Isso é uma das chaves do sucesso internacional da emissora.

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A HBO tem seus blockbusters, séries de grande porte que são os carros-chefes da emissora. O que representam as produções locais para a grade?

Séries como Westworld e Game of Thrones, que são algumas das quais imagino que você esteja se referindo, são séries criadas pela nossa matriz, com grande investimento. Mas nós temos a nossa dimensão, somos a empresa latino-americana com mais capacidade de produção e investimento.

Em termos de relacionamento com o telespectador, muda algo? A relevância é outra por parte das séries locais. É algo mais perto da realidade do telespectador do que as produções estrangeiras europeias ou norte-americanas. Se analisarmos o nosso histórico de produções por aqui, por exemplo, temos temáticas muito brasileiras.

O Brasil é o único país da América Latina a não falar espanhol e isso costuma criar uma barreira cultural na música, cinema, TV. Como isso afeta o planejamento de vocês?

Temos uma visão muito global de integrar a nossa oferta de programação. As produções brasileiras têm a mesma importância na América Latina do que no Brasil. Nosso público hoje tem mais conhecimento da língua portuguesa por causa disso.

Em 2011, entrou em vigor a lei que obrigava todos os canais por assinatura a dedicar parte de sua programação às produções locais. Como isso afetou vocês?

Foi um catalisador. Foi uma iniciativa que recebemos com entusiasmo. Era uma maneira de reafirmar nosso compromisso com a produção local.

Na quinta-feira, 9, a HBO anunciou 14 produções brasileiras. A mais falada foi o projeto com Gregório Duvivier.

Estamos procurando ter um programa como esse há três anos. A chave é encontrar esse personagem, essa figura. A negociação com Gregório foi feita com calma e até ele se convencer a ter um programa como esse e para a gente se convencer que havíamos encontrado o cara. Seguramente vamos criar esse formato em outros países também.

Na indústria da música, o streaming é visto como o futuro. A plataforma HBO Go chegou ao Brasil em dezembro. Acha que esse também é o futuro da TV?

É possível que seja em um futuro distópico (risos). Ainda temos um caminho longo pela frente com a convivência entre as duas plataformas, as lineares e não lineares. Mudamos nossa programação, criamos estreias simultâneas. É uma estratégia efetiva na luta contra a pirataria.


Algumas séries como O Negócio e Magnífica 70 já foram exportadas para Europa. O HBO Go não seria ideal para testar o mercado de outras produções?

Temos discussões internas sobre isso. Tão importante quanto produzir uma série é a comunicação dela. Podemos ter um programa maravilhoso, com altíssima qualidade de produção, mas, se você não souber se comunicar, não conseguirá atingir o público desejado. Mas está nos nossos planos, para um futuro próximo, possivelmente com a estreia em plataformas não lineares (streaming). É algo que estamos tentando resolver.

*O repórter viajou a convite da produtora

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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