O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, apresentou nesta quarta-feira (13) seus planos para estimular a União Europeia, incluindo uma integração maior da Eurozona, e afirmou que o bloco deve aproveitar o “vento em popa”, após uma série de crises, com o Brexit como auge.

“A Europa tem de novo o vento em popa. Temos agora uma janela de oportunidade aberta, mas esta não permanecerá sempre aberta”, afirmou Juncker na Eurocâmara em Estrasburgo (nordeste da França), durante o discurso anual sobre o Estado da UE.

O otimismo sobre o futuro do bloco impregnou o discurso do chefe do Executivo comunitário, que, em 2016, destacou a “crise existencial” que o bloco vivia, depois de dois anos de crise econômica e migratória, a qual se uniu no ano passado a vitória do Brexit.

A dois anos do fim de seu mandato, em 2019, Juncker tem como objetivo para os próximos meses avançar com o debate sobre uma integração maior da zona do euro. Para ele, a eurozona deveria contar com quase todos os países do bloco, assim como a zona de livre-circulação Schengen.

– ‘Europa mais forte e mais unida’ –

Desde seu último discurso do Estado da UE, há 12 meses, a crise migratória parece encaminhada, as economias dos países europeus apresentam índices de crescimento, e a chegada de Donald Trump à Casa Branca transformou os 28 países do bloco nos principais defensores do livre-comércio em nível mundial.

O comércio é uma das prioridades de Juncker para a construção de uma Europa “mais forte e mais unida”. Neste sentido, propôs a abertura em breve de negociações para um acordo comercial com Nova Zelândia e Austrália. Ambos se uniriam às negociações em curso com os países do Mercosul e com o México.

Outra proposta de Juncker é criar um “marco” europeu de controle dos investimentos estrangeiros na UE para proteger os setores estratégicos, uma resposta às preocupações sobre as aquisições chinesas, algo que pode não contar com o apoio dos 28 países.

Em plena reflexão sobre o futuro da UE e da Eurozona, Juncker também defendeu nesta quarta-feira a ideia de unir o cargo de comissário europeu de Assuntos Financeiros com o de presidente do Eurogrupo (que reúne os 19 ministros das Finanças da Eurozona), em uma espécie de superministro europeu da Economia e Finanças.

As reformas prosseguiriam: o luxemburguês, de 62 anos, também propôs a fusão dos cargos de presidente do Executivo comunitário (Comissão) e de chefe do Conselho Europeu, que coordena os debates dos 28 governantes do bloco.

“A eficácia europeia ganharia força se conseguíssemos unir as presidências da Comissão Europeia e do Conselho Europeu”, afirmou, acrescentando que “a paisagem europeia seria mais compreensível, se o barco europeu fosse pilotado por apenas um capitão”.

– ‘Estado de direito não é opcional na UE’ –

Após anos de “gestão de crises” — nas palavras do eurodeputado liberal Guy Verhofstadt —, o presidente da Comissão abriu o debate sobre o futuro do bloco em março, com a publicação de seu Livro Branco sobre os desafios da UE.

O primeiro é o divórcio com o Reino Unido. Londres e Bruxelas estão no meio das negociações de separação, complicadas em temas como a conta que deve ser paga pelos britânicos com a saída. De qualquer modo, a UE respirou aliviada nos últimos meses com a derrota dos eurocéticos nas eleições da França e Holanda.

“Após o Brexit e a eleição de Trump, não aconteceu um efeito dominó (…) Pelo contrário, aconteceu uma ressurreição da ideia da UE”, resumiu Verhofstadt após o discurso de 80 minutos de Juncker, para quem “o Brexit não é o futuro da Europa”.

Ao contrário do Brexit, a crise migratória abriu uma nova crise, desta vez com os países do leste do bloco, mais relutantes a abrigar os refugiados. Este é o caso em especial de Polônia e Hungria, cujos governos são criticados por Bruxelas por suas políticas consideradas antidemocráticas.

“De leste a oeste, a Europa deve respirar com os dois pulmões, caso contrário nosso continente pode ficar sem fôlego”, advertiu Juncker.

“O Estado de direito não é opcional na UE”, afirmou, em uma aparente referência à polêmica reforma do Judiciário na Polônia.

– ‘Libertem nossos jornalistas’ –

No mesmo discurso, Juncker pediu ao governo da Turquia a libertação dos jornalistas detidos no país, em um momento de tensão no relacionamento entre UE e Ancara, deflagrado com a tentativa de golpe de Estado de julho de 2016.

“Hoje, faço um apelo às autoridades turcas: libertem nossos jornalistas, e não apenas os nossos!”, disse.

De acordo com o site P24, quase 170 jornalistas estão detidos na Turquia, especialmente de nacionalidade turca, mas também há alguns estrangeiros, como Deniz Yücel (turco-alemão), ou Loup Bureau (francês).

A tensão provoca inclusive pedidos pelo fim das negociações de adesão da Turquia à UE, iniciadas em 2005. Alguns países hesitam em adotar essa medida, porém, porque Ancara é considerada uma aliada essencial para enfrentar a crise migratória e a luta contra o terrorismo.