ROMA, 31 JAN (ANSA) – O presidente da Câmara dos Deputados da Itália, Roberto Fico, anunciou uma nova rodada de consultas com os partidos que apoiavam o premiê Giuseppe Conte para tentar reconstruir a coalizão de governo.   

Essa será a terceira série de conversas com as forças políticas com representação no Parlamento. A primeira, que também envolveu a oposição, foi conduzida pelo presidente Sergio Mattarella, que deu mandato para Fico prosseguir as tratativas exclusivamente com os partidos que integravam o segundo governo Conte.   

Durante o fim de semana, o líder da Câmara se reuniu com todas as legendas que davam sustentação ao premiê e ouviu um apoio quase unânime à manutenção de Conte no comando do governo. A única exceção é o partido de centro Itália Viva (IV), do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, que defende discutir primeiro sobre projetos e depois sobre “nomes”.   

“Do encontro com as forças políticas emergiu a disponibilidade comum de fazer uma discussão sobre temas e pontos programáticos para alcançar uma síntese”, declarou Fico neste domingo.   

O presidente da Câmara pertence ao antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), principal fiador de Conte, mas tem bom trânsito na centro-esquerda. De acordo com Fico, a nova rodada de negociações acontecerá na manhã desta segunda-feira (1º), um dia antes do prazo final estipulado por Mattarella.   

O objetivo das tratativas é tentar atrair novamente o IV para a base aliada, após o partido ter saído do governo por discordar de suas políticas para a gestão de repasses da União Europeia. O racha fez Conte perder sua maioria no Senado.   

Mesmo sobrevivendo a um voto de confiança com maioria relativa na Câmara Alta, possibilitada por uma abstenção do Itália Viva, o premiê decidiu renunciar antes que o governo fosse derrubado por alguma derrota no Parlamento.   

Além do M5S, Conte tem o apoio declarado do centro-esquerdista Partido Democrático (PD), da aliança progressista Livres e Iguais (LeU), do Movimento Associativo dos Italianos no Exterior (Maie), de legendas das minorias linguísticas e de parlamentares independentes.   

Mas o Itália Viva é determinante para assegurar maioria absoluta no Senado. Renzi garante não ter colocado nenhum veto contra o primeiro-ministro demissionário, mas mantém aberta a possibilidade de empossar outro chefe de governo que também agrade a M5S e PD.   

O partido de centro também demonstra incômodo nos bastidores com alguns membros do governo, como os ministros da Economia, Roberto Gualtieri (PD), e da Justiça, Alfonso Bonafede (M5S), além do coordenador das ações antipandemia, Domenico Arcuri (independente).   

Por outro lado, um eventual retorno de Renzi à coalizão pode dividir o M5S. Ambos sempre foram arqui-inimigos na política italiana, porém acabaram forçados a se aliar para evitar eleições antecipadas em meio à crise provocada pela saída do líder de extrema direita Matteo Salvini do governo, em 2019.   

Ao romper com Conte, Renzi passou a ser acusado de “traidor” por membros do M5S, e alguns deles inclusive cogitam deixar o partido no caso de uma reaproximação. Se não houver acordo entre as legendas que apoiavam o premiê demissionário, o presidente Mattarella pode se ver forçado a convocar eleições antecipadas.   

(ANSA).