Pela primeira vez em 14 anos para um presidente chinês, Xi Jinping visitará a Coreia do Norte nesta quinta e sexta-feira (20 e 21), ilustrando uma reaproximação entre os dois países, que enfrentam uma pressão crescente dos Estados Unidos.

Envolvida em uma guerra comercial com Washington, a China participará da cúpula do G20 no final de junho no Japão, onde Xi Jinping poderá se reunir com seu colega americano, Donald Trump.

A Coreia do Norte ainda é alvo de sanções internacionais, um ano após a histórica cúpula em Singapura entre Trump e Kim, que não permitiu resolver a espinhosa questão do programa nuclear norte-coreano.

Principal aliada do governo da Coreia do Norte, a China aplica as sanções internacionais destinadas a levar os norte-coreanos a renunciarem à fabricação de armas nucleares.

Isso contribuiu para esfriar as relações entre os dois vizinhos, a tal ponto que Xi e Kim, que chegaram ao poder em 2012 e 2011, respectivamente, encontraram-se pela primeira vez apenas em 2018.

Desde então, porém, as relações melhoraram. Kim Jong-un viajou para a China em quatro ocasiões para se encontrar com Xi, que prometeu retribuir a visita sem anunciar uma data.

A visita de Xi a Pyongyang – a convite do líder norte-coreano, de acordo com a rede pública chinesa CCTV – ocorrerá uma semana antes da cúpula do G20, em Osaka, o que lhe dá um significado especial.

“A mensagem da China é que continua sendo um elemento essencial” nas negociações sobre a programa nuclear norte-coreano, explicou à AFP Yuan Jingdong, especialista em Ásia-Pacífico da Universidade de Sydney.

“Não se pode ignorar a China, que pode desempenhar um papel muito importante”, assegura.

– “Moeda de troca” –

Xi poderia, assim, usar esse deslocamento como uma “moeda de troca” na guerra comercial com os Estados Unidos, de acordo com o especialista.

Nos últimos dias, centenas de soldados e trabalhadores estavam pintando a Torre da Amizade em Pyongyang, que comemora os milhões de soldados que Mao Tsé-tung enviou para apoiar as forças do avô de Kim Jong-un durante a Guerra da Coreia (1950-1953).

Menos de uma hora após o anúncio da visita oficial de Xi Jinping a Pyongyang, uma “explosão suspeita” causou um pequeno terremoto na fronteira entre a China e a Coreia do Norte, segundo as autoridades chinesas, que não deram mais detalhes.

Esta região foi abalada em setembro de 2017 por um teste nuclear do regime de Pyongyang.

Xi Jinping não estará em território desconhecido na Coreia do Norte. Quando foi vice-presidente, ele visitou Pyongyang em 2008. Mas é necessário voltar a 2005 para encontrar a última viagem de um presidente chinês, Hu Jintao, ao vizinho norte-coreano.

De acordo com várias fontes diplomáticas na capital norte-coreana, depois de quatro visitas de Kim nos últimos meses, havia em Pyongyang um sentimento cada vez mais forte de que Xi Jinping deveria responder à cortesia, para não ofuscar os norte-coreanos.

“Do ponto de vista da Coreia do Norte, já era hora de o presidente Xi viajar” ao país, afirma John Delury, professor da Universidade Yonsei, de Seul.

“Eles contam os pontos, e está em quatro a zero”, completa o professor, na conversa com a AFP.

Esta visita ocorre depois da deterioração das negociações entre Trump e Kim, após o fracasso de uma segunda cúpula, em fevereiro no Vietnã.