Bolsonaro nunca foi de respeitar as instituições, incluindo o Exército ao qual deve sua formação profissional. Indisciplinado, foi expulso da corporação, após ter sido investigado por ameaçar a detonação de explosivos contra os próprios companheiros. Os bolsonaristas dirão que isso é coisa do passado, nos idos dos anos 80, e que, hoje, a história é outra. Não. Não é. O Bolsonaro de hoje continua sendo o mesmo baderneiro de sempre. Só que a coisa hoje é muito mais grave, já que ele é o presidente e sua atuação o tem levado ao descrédito total, tanto internamente, onde é chamado de genocida, como externamente, onde é tido como pária.

Desde que assumiu, ele jamais respeitou a liturgia do cargo que exerce, mas agora vem tomando atitudes tresloucadas que colocam em risco nosso futuro e a nossa democracia, ameaçando com golpe caso o voto impresso não seja aprovado – e não será – e incitando seus fieis seguidores a implantarem um clima de guerra caso ele perca a eleição – e deverá perder.

Com suas motociatas em ritmo de homenagem fascista, com suas falas ensandecidas no chiqueirinho do Alvorada e com suas bravatas contra o sistema de votação, ele está criando um caldo de cultura para uma revolta do grupo sectário que ainda o apoia. Traz instabilidade ao País por seus ataques contra as instituições democráticas. Se anteriormente sua ira era voltada contra o STF e o Congresso, agora ele dobrou a aposta de insanidades, incluindo o TSE e os ministros da Corte eleitoral em suas acusações sem provas e baixarias transmitidas em lives falaciosas. Há meses ele vem acrescentando ingredientes de bagunça ao cenário político pré-eleitoral, esticando a corda, tentando uma ruptura, mas os militares não parecem querer aderir às suas ideias retrógradas.

No fundo, ele sabe que dificilmente vencerá a eleição. Afinal, é rejeitado por 59% dos eleitores, segundo os institutos de pesquisa. Por isso, promove um ambiente de instabilidade para justificar uma tentativa de golpe institucional que venha a impedir a realização de eleições no ano que vem. Por ele, haveria uma virada na mesa que o mantivesse no poder, de forma ditatorial, sem a necessidade do democrático processo eleitoral. É o que ele prega diariamente. Insufla seus eleitores contra o sistema de votação e contra o Poder Judiciário. Em boa hora, no entanto, os magistrados estão reagindo e não permitirão que o ex-capitão continue a enxovalhar a Constituição e as leis. Os ministros Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, sobretudo, estão colocando freios nos arroubos autoritários do presidente e da sua turba baderneira. O STF e o TSE são, em última instância, a garantia de que a ordem não será quebrada e que o País não mergulhará em novos anos de chumbo.