O presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, visitou Guernica nesta sexta-feira (28) e tornou-se o primeiro chefe de Estado de seu país a prestar homenagem às vítimas do bombardeio nazista de 1937 nesta localidade basca, transformada em símbolo de denúncia da guerra.
Junto ao rei da Espanha Felipe VI, Steinmeier participou de uma cerimônia em um cemitério da cidade em memória das centenas de vítimas deste bombardeio, executado em abril de 1937 para apoiar as tropas do general Francisco Franco durante a Guerra Civil (1936-1939).
Ambos devem visitar mais tarde o Museu da Paz, que relembra esta tragédia cuja marca continua muito presente na memória dos habitantes do País Basco, no norte da Espanha.
Antes de Frank-Walter Steinmeier, que iniciou na quarta-feira uma visita de Estado de três dias à Espanha, nenhum presidente ou chanceler alemão havia visitado esta localidade basca.
Durante um jantar oficial na quarta-feira em Madri, o presidente alemão já havia afirmado que considerava muito importante que os alemães “não esqueçam o que aconteceu, que esse crime foi cometido por alemães”, em referência ao ocorrido em Guernica, que “constitui uma pesada culpa”.
“Guernica é um lembrete, um lembrete de que apoiamos a paz, a liberdade e a defesa dos direitos humanos”, afirmou no Palácio Real, diante do rei Felipe VI e da rainha Letizia, entre outros.
Em 1997, ao se completar o 60º aniversário do bombardeio em Guernica, o então presidente alemão, Roman Herzog, foi o primeiro dirigente de seu país a reconhecer a “implicação de culpa a pilotos alemães” no ocorrido e pediu perdão ao povo espanhol em um discurso lido em Guernica naquele dia, em sua ausência, pelo embaixador alemão na Espanha.
– Símbolo universal –
“A vocês, sobreviventes deste ataque, a vocês, testemunhas do horror, dirijo minha mensagem de lembrança, solidariedade e luto”, indicava então o texto de Herzog, referindo-se a Guernica como “o símbolo de uma guerra contra uma população civil indefesa e de uma forma tão horrível quanto inesperada”.
Durante o primeiro dia de sua viagem oficial, Steinmeier visitou na quarta-feira o Museu ‘Reina Sofia’ em Madri, onde está exposta “Guernica”, a imponente obra de Pablo Picasso dedicada à tragédia.
Com 7,8 m de comprimento por 3,5 m de altura, e pintada quase imediatamente após o bombardeio para integrar o pavilhão da Espanha na Exposição Internacional de Paris em 1937, a obra tornou-se um símbolo universal de denúncia da guerra e do sofrimento dos civis.
Dez dias antes da visita de Steinmeier, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky também foi ver o quadro acompanhado pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. O líder ucraniano já havia comparado as atrocidades vividas pelos habitantes da localidade basca há quase 90 anos com a invasão russa ao seu país desde 2022.
Em abril de 1937, quase 50 aviões se revezaram em ondas sucessivas para lançar cerca de 30 toneladas de bombas sobre Guernica, incluindo artefatos incendiários utilizados pela primeira vez.
Historiadores consideram que Guernica foi a primeira cidade do mundo completamente destruída por um bombardeio aéreo no que foi, segundo os especialistas, um campo de testes para a aviação alemã, cuja Legião Condor – então na Espanha para ajudar o lado franquista – representava a elite.
A viagem de Frank-Walter Steinmeier à Espanha ocorre poucos dias após o 50º aniversário da morte de Francisco Franco, falecido em 20 de novembro de 1975 após várias décadas de ditadura (1939-1975), e cujo legado continua dividindo profundamente a sociedade espanhola.
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