Magnata das comunicações, ex-chefe de governo, cantor de navios de cruzeiro, criminoso condenado e sedutor inveterado. Silviio Berlusconi, 85 anos, tem uma jornada pouco convencional e pode sonhar com uma nova ocupação em seu currículo: chefe de Estado da Itália.

Poucas semanas antes da votação secreta no Parlamento, prevista para janeiro, para eleger o novo presidente da República da Itália, não há candidatos claros para um cargo tão importante, especialmente em períodos de maior crise.

Especula-se a possibilidade do atual primeiro-ministro, o economista Mario Draghi, assumir a presidência.

Diante disso, Berlusconi, que recentemente teve problemas de saúde além do coronavírus, está movimentando suas peças no complexo xadrez político.

“Berlusconi tentará e poderá ter sucesso”, disse à AFP Gianfranco Pasquino, professor de ciência política da Universidade Johns Hopkins em Bolonha.

O presidente da Itália ocupa um cargo de particular prestígio em uma República parlamentar, tem o poder de dissolver o Parlamento e por isso é chamado a mediar crises como único árbitro.

O presidente Sergio Mattarella termina seu mandato após sete anos e foi fundamental para impor Draghi como o líder de um governo de unidade nacional em fevereiro, após o colapso da coalizão governante.

Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, se recusa a confirmar ou negar que aspira ao cargo de chefe de Estado.

Atualmente, ele administra o gigante fundo de mais de 190 bilhões de euros (214 bilhões de dólares) que a União Europeia (UE) concedeu para reativar a economia após a pandemia.

Berlusconi, que irrompeu na cena política em 1994 seduzindo milhões de italianos com seu império televisivo, não confirmou nem negou sua candidatura.

O magnata está envolvido em dois processos nos quais é acusado de subornar testemunhas para mentir sobre suas festas quando era primeiro-ministro, descritas pelas meninas convidadas como orgias sexuais.

No entanto, o fundador e líder do partido de centro-direita Forza Italia se esforça para se apresentar como um homem moderado, razoável, um estadista competente, capaz de conter os excessos da extrema direita rebelde e anti-europeia.

Ele chegou a fazer propostas ao Movimento 5 Estrelas (M5E), uma formação antissistema que venceu as últimas eleições e que descreveu em 2018 como um grupo de incompetentes.

Franco Pavoncello, professor de ciências políticas da Universidade John Cabot de Roma, disse à AFP que a probabilidade de Berlusconi ser eleito é “baixa”.

“Além da sua idade e formação, a sua escolha suscitaria muitas questões a nível internacional”, explicou.