ROMA, 15 AGO (ANSA) – O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, fez duras críticas nesta quinta-feira (15) ao vice-premier e ministro do Interior, Matteo Salvini, sobre suas recentes atitudes em relação ao navio Open Arms, de uma ONG espanhola, que está há 14 dias à deriva no Mar Mediterrâneo com 147 imigrantes. A ministra da Defesa da Itália, Elisabetta Trenta, também desafiou Salvini e se recusou a assinar uma ordem que proíbe o navio de desembarcar em portos locais. Trenta é do partido Movimento 5 Estrelas (M5S), que formava uma aliança de governo com a Liga Norte, de Salvini. As duas legendas, porém, entraram em confronto político na semana passada, abrindo uma crise na Itália. “Tomei essa decisão motivada por sólidas razões legais, escutando minha consciência. Não devemos esquecer nunca que, atrás de todas as polêmicas dos últimos dias, existem crianças e jovens que sofreram violências e abusos de todo o tipo. A política não pode jamais perder a humanidade. Por isso, não assinei”, disse Trenta.   

O navio Open Arms, da ONG espanhola Proactiva Open Arms, resgatou cerca de 150 imigrantes no Mar Mediterrâneo há duas semanas. A embarcação, porém, está desde então à deriva, sem autorização para acessar nenhum porto na Europa. Contrário à atuação das ONGs na crise imigratória europeia e idealizador de políticas de fechamento de portos, Salvini emitiu uma ordem que proibia a Open Arms de desembarcar na Itália. A ONG espanhola, por sua vez, recorreu da decisão na Justiça e, ontem (14), um Tribunal do Lazio derrubou a ordem de Salvini e permitiu que o navio entrasse em águas italianas.   

Por volta das 23h de ontem, Salvini reagiu e assinou um novo decreto para impedir o acesso da Open Arms à Itália, consolidando um “braço de ferro” com a ONG. A ministra da Defesa, porém, recusou-se a assinar o documento, assim como o ministro da Infraestrutura, Danilo Toninelli.   

Como a recém-aprovada lei de segurança na Itália determina que as decisões sobre imigração sejam tomadas em concordância entre os ministérios do Interior, da Defesa e da Infraestrutura, o texto de Salvini é ineficaz sem a firma dos outros dois colegas.   

“[A atitude de Salvini] é um claro exemplo de desleal colaboração, pela enésima vez, para dizer a verdade, que não posso aceitar”, disse Conte, em uma carta aberta, publicada no Facebook e endereçada ao político da Liga Norte.   

“Temos trabalhado lado a lado há vários meses e eu sempre tentei transmitir os valores de dignidade ao papel que desempenhamos e de sensibilidade às instituições que representamos”, disse Conte, comentando que “a ansiedade de comunicar e os anseios políticos” de Salvini muitas vezes levaram-no a situações de crises institucionais. Na carta, Conte também afirmou que a Itália deveria “insistir na direção de uma solução cada vez mais europeia” para a crise imigratória, em conjunto com os outros países do bloco, “senão, corre o risco de se ver completamente isolada em uma situação que, novamente, ficará cada vez mais intratável”.   

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O navio alcançou a ilha de Lampedusa, no sul da Itália, na madrugada de hoje com os 147 imigrantes à bordo. Um outro barco de pequeno porte, que também pertence à Proactiva, escolta a embarcação. De acordo com dois agentes de saúde que tiveram acesso ao barco, vários imigrantes apresentam sinais de danos psicológicos, além de condições físicas ruins. “Para alguns, as experiências de frustração e dor fizeram emergir ideias suicidas”, relataram os médicos ao jornal “Corriere della Sera”. (ANSA)


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