O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, será uma das estrelas da próxima reunião de cúpula do G7, em Biarritz, na França, onde terá seu primeiro encontro com o presidente americano, Donald Trump, forte defensor de um Brexit sem concessões.

“Veremos se Boris Johnson (…) consegue mostrar uma imagem diferente” da que exibiu como chefe da diplomacia, um papel no qual “decepcionou”, disse à AFP Bronwen Maddox, diretora do centro de pesquisa Institute for Government.

O encontro do chefe do governo britânico com Trump será um dos momentos de destaque da cúpula, prevista de 24 a 26 no sudoeste da França.

“Será muito importante qual tipo de mensagem enviará”, considera Anna Nadibaidze, pesquisadora do think thank Open Europe. “Isso poderia indicar a direção que o Reino Unido quer tomar após o Brexit”.

– ‘Trump britânico’ –

Trump se declarou “impaciente” para se reunir com Johnson, com quem já falou várias vezes por telefone. E deve ser com ele seu primeiro encontro bilateral, antes mesmo do anfitrião da cúpula, o francês Emmanuel Macron.

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Classificado frequentemente como “Trump britânico”, Johnson não só os cabelos loiros e a atitude eurocética em comum com o dirigente americano: como ele, também divide em seu país, adota uma atitude populista, tem um conceito flexível de verdade e gosta de provocar.

“BoJo” como é popularmente conhecido, sucedeu Theresa May em 24 de julho, apresentando-se como salvador de um Brexit que a líder conservadora não conseguiu concluir. Ele afirma almejar um acordo comercial com os Estados Unidos que suavize o abalo econômico previsto no caso de um Brexit sem acordo.

Johnson garantiu que o Reino Unido abandonará o bloco europeu em 31 de outubro, mesmo se não conseguir renegociar o Acordo de Retirada, concluído entre May e os 27.

Essas declarações não melhoram sua relação com os outros dirigentes europeus, como a chanceler alemã Angela Merkel e o próprio Macron, com quem se reunirá nesta semana antes da cúpula.

– Peso internacional –

Uma vitória internacional lhe permitiria afirmar sua figura como dirigente na sua terra natal, considera Maddox. Mas uma decepção pode debilitá-lo em um momento em que enfrenta protestos no Reino Unido, em meio a especulações sobre a convocação de eleições antecipadas.

“Se Boris Johnson conseguir ser visto como um líder mundial, isso lhe daria uma vantagem”, afirma a especialista.

Mas alcançar um acordo de livre-comércio rápido com os Estados Unidos terá um preço, alertam analistas, que não excluem uma mudança, ainda que parcial, da política externa britânica.

“Trump mostrou uma clara tendência a ver o comércio como uma proposta de soma zero. Não vemos porque agora de repente seria amável e generoso com o Reino Unido”, alerta Dana Allin, encarregada da política externa americano no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres.

Ela alerta que, a curto prazo, um Brexit sem acordo ameaça afetar as relações com os europeus, o que complicaria a definição da nova relação entre Londres e Bruxelas.

“É perigoso e ingênuo: um acordo comercial mágico com os Estados Unidos, situado a mulhares de quilômetros, não poderá compensar o dano causado às relações econômicas com a UE”, de longe o maior parceiro comercial com do Reino Unido, afirma.


Já Nadibaidze considera que “uma relação próxima com os Estados Unidos pode implicar ter que fazer concessões (…) e se afastar um pouco mais da Europa” nas grandes questões internacionais.

Até agora, Londres se alinhou com seus sócios europeus na questão nuclear iraniana, embora no começo de agosto o Reino Unido tenha anunciado sua participação em uma “missão de segurança marítima” junto dos Estados Unidos no Golfo Pérsico.

Londres “enfrenta um dilema”, estima Charles Grant, diretor do Center for European Reform, embora considere que “existem limites de até onde pode chegar” em suas concessões a Washington – especialmente no que diz respeita a questões como mudanças climáticas.


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