O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, defendeu, nesta quinta-feira (15), sua polêmica decisão de revogar a autonomia constitucional da parte da Caxemira controlada pela Índia.
Em um discurso por ocasião do Dia da Independência, em Nova Délhi, Modi afirmou que esta revogação faz parte de uma série de decisões, por meio das quais seu governo recentemente reeleito desempenhou um papel de “pioneiro”.
O líder nacionalista afirmou que “ideias novas” são necessárias, após sete décadas de fracasso nas políticas para esta região dividida.
“Menos de 70 dias depois da posse do novo governo, o artigo 370 se tornou obsoleto. E, em cada câmara do Parlamento, os dois terços de seus membros aprovaram a medida”, completou.
Em um contexto de crescente tensão, o Exército paquistanês anunciou que três de seus soldados foram mortos nesta quinta em trocas de tiros por cima da linha de demarcação entre as duas partes da Caxemira. Dois civis também morreram em outros tiroteios, declarou Mirza Arshad Jarral, uma autoridade local, à AFP.
Os militares paquistaneses disseram ter agido em represália, matando cinco soldados indianos. De acordo com a agência de notícias Press Trust of India, um porta-voz do Exército do país vizinho negou os óbitos, afirmando se tratar de uma “alegação fictícia”.
Embora sejam frequentes, estes conflitos acontecem um dia depois de declarações de Islamabad que deixam Nova Délhi em alerta contra qualquer agressão em sua parte da Caxemira.
Nesta sexta (16), em uma reunião a portas fechadas, o Conselho de Segurança da ONU planeja discutir a decisão da Índia de tirar a autonomia da Caxemira, informaram fontes diplomáticas à AFP.
A Polônia, que atualmente ocupa a presidência rotativa do órgão, colocou o assunto em discussão na agenda de amanhã, acrescentaram as mesmas fontes.
Jammu-e-Caxemira, uma região himalaia majoritariamente muçulmana, também reivindicada pelo Paquistão, está totalmente isolada do mundo desde 4 de agosto.
Cortes na comunicação e fortes restrições à circulação foram impostos pelas autoridades indianas antes do anúncio da revogação do artigo 370 da Constituição, que conferia um status especial à zona sob seu controle. Provocou a ira do Paquistão.
Hoje, a rede BBC anunciou que intensificará a transmissão de seus programas de rádio em ondas curtas e em línguas locais para a Caxemira.
Além da revogação da autonomia constitucional, o governo Modi também apresentou ao Parlamento um projeto de lei para dividir Jammu-e-Caxemira, da qual será separada sua parte leste, Ladakh, de maioria budista.
Já o território restante de Jammu-e-Caxemira perderá o status de Estado federado, passando para “território da União”. Isso significa que a região ficará sob administração direta de Nova Délhi e que não terá qualquer autonomia.
“Os antigos arranjos em Jammu, na Caxemira e em Ladakh estimulam a corrupção e o nepotismo, assim como a injustiça, no que diz respeito aos direitos das mulheres, da crianças, dos dalits, das comunidades tribais”, acrescentou o premiê Modi.
– “Viva a Índia” –
Depois de seu discurso de 90 minutos, o premiê gritou “Jai Hind” (“Viva a Índia”), expressão repetida por estudantes vestidos nas cores da bandeira indiana. Na sequência, todos entoaram o hino nacional.
A revogação da autonomia da região e seu deslocamento foram classificados como “ilegais” pelo Paquistão. Ambos os países disputam a Caxemira desde sua divisão em 1947, com o fim da colonização britânica.
Ontem, Dia da Independência do Paquistão, o premiê Imran Khan optou por um tom belicoso, advertindo a Índia contra qualquer agressão em sua parte na Caxemira.
“O Exército paquistanês dispõe de informações sólidas, segundo as quais eles têm a intenção de fazer qualquer coisa na Caxemira paquistanesa”, frisou.
“Vamos dar a eles uma resposta dura”, garantiu.
Em Londres, milhares de manifestantes protestaram em frente à embaixada da Índia nesta quinta. Com cartazes que diziam “A Caxemira sangra”, os manifestantes eram monitorados pela polícia britânica, que tentava mantê-los afastados de um ato a favor da Índia. Várias pessoas foram detidas.
Carregando bandeiras da parte da Caxemira sob controle paquistanês, os manifestantes gritavam “liberdade!”.
“Queremos uma Caxemira unida (…) Não é um problema religioso. Eu apoiaria qualquer Caxemira, mesmo se fosse cristã”, disse à AFP Shazad Ahmed, de 36 anos, que trabalha com Informática e é oriundo da parte paquistanesa da Caxemira.
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