O presidente americano, Joe Biden, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, disseram, nesta quinta-feira (22), que as relações entre as duas democracias vão definir o próximo século, em um momento em que Washington busca um contrapeso para a China e descarta os apontamentos de um crescente autoritarismo em Nova Délhi.

Biden estendeu o tapete vermelho e recebeu com honras militares Modi em sua visita de Estado, na qual surgiram acordos importantes sobre motores para aviões de combate, investimentos em semicondutores e cooperação espacial.

“Há muito tempo acredito que a relação entre os Estados Unidos e a Índia será uma das mais decisivas do século XXI”, disse Biden.

“Os desafios e oportunidades que o mundo enfrenta neste século requerem que a Índia e os Estados Unidos trabalhem e liderem juntos”, acrescentou.

Modi, o premiê mais poderoso da Índia em décadas, disse, por sua vez, durante coletiva de imprensa, que a visita traz uma “nova direção e uma nova energia” para a “associação estratégica global” com os Estados Unidos.

A respeito de um tema que sabe ser sensível a Washington, Modi disse que a Índia está “completamente pronta para contribuir de qualquer forma para restaurar a paz” na Ucrânia.

Em comunicado conjunto, os dois países pediram respeito à “integridade territorial” ucraniana e fizeram “um apelo de respeito ao direito internacional, aos princípios da Carta da ONU e à integridade e soberania territoriais”.

– “Nenhum espaço para a discriminação” –

Modi, que há uma década liderava o estado de Gujarat e foi proibido de entrar nos Estados Unidos acusado de violência religiosa, defendeu sua trajetória em declarações à imprensa incomuns para um primeiro-ministro geralmente apegado ao ‘script’.

“Independentemente da casta, do credo, da religião, ao gênero, não há absolutamente nenhum espaço para a discriminação”, disse Modi de forma de crítica a quem questiona o caráter democrático da Índia.

Várias associações têm acusado Modi de alimentar as perseguições contra a minoria muçulmana na Caxemira e de pressionar a imprensa e a oposição.

Modi destacou que “as sociedades e instituições, tanto dos Estados Unidos quanto da Índia, se baseiam em valores democráticos”, e acrescentou que os dois países são “orgulhosos de sua diversidade”.

Os dois líderes falarão à imprensa e responderão perguntas dos jornalistas, algo pouco comum para o chefe de Governo nacionalista hindu.

Depois, o líder asiático irá ao Congresso, e em seguida a um jantar de gala nos jardins da Casa Branca, que servirá um cardápio que, em sua homenagem, será vegetariano e inspirado na cozinha indiana.

Sua visita, no entanto, não agrada a todos: parlamentares democratas anunciaram a intenção de boicotar o discurso do líder indiano no Congresso, pois questionam o respeito aos direitos humanos e à liberdade religiosa na Índia.

– Grandes acordos de defesa –

Biden não pode estar mais que satisfeito ao ver a Índia diversificar seu equipamento de defesa. Washington confia em que uma relação mais próxima neste setor ajude a afastar a Índia da Rússia, que foi o principal fornecedor de equipamento militar para Nova Délhi durante a Guerra Fria.

Em um acordo descrito por Modi como um marco, os Estados Unidos assinaram uma transferência de tecnologia para motores conforme a Índia começa a produzir seus próprios aviões de combate.

A General Electric terá aval para produzir seus motores F414 em conjunto com a empresa estatal indiana Hindustan Aeronautics, informou um alto funcionário americano à imprensa.

Ele acrescentou que a Índia também compraria drones armados de alta precisão MQ-9B SeaGuardians.

Em boa medida, o governo Biden deixou passar a negativa indiana de se unir às sanções ocidentais contra a Rússia e, ao invés disso, passar a comprar petróleo com desconto de Moscou. Washington vê na Índia um alinhamento mais amplo ao desafio que a China representa e à ameaça do islã radical.

Segundo outro alto funcionário dos EUA, o grupo americano Micron, peso-pesado na fabricação de semicondutores, essenciais para a informática, vai anunciar um investimento de mais de US$ 800 milhões (R$ 3,9 bilhões na cotação atual) em uma fábrica na Índia, que se espera que vá alcançar 2,75 bilhões de dólares (aproximadamente R$ 13 bilhões) depois das contribuições de Nova Delhi.

O alto funcionário disse que cabia aos Estados Unidos e à Índia construir um “ecossistema de semicondutores que permita a diversificação das cadeias de abastecimento”, cuja fragilidade foi evidenciada pela pandemia de covid-19.

Como nova potência espacial em crescimento, a Índia também pactuou, durante a visita de Modi, unir-se aos Acordos de Artemis, um programa multinacional liderado pelos Estados Unidos para levar um ser humano à Lua em 2025.

Como parte dessa cooperação, em 2024, o programa espacial indiano fará uma missão conjunta com a Nasa na Estação Espacial Internacional.

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