Prefeitos dos Estados Unidos denunciaram nesta quinta-feira (21) a falta de informação e o excessivo segredo do governo diante da crise humanitária que ocorre na fronteira com o México, em um protesto em frente a um campo de detenção de crianças imigrantes no Texas.

O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, e cerca de outros 20 de ambos os partidos falaram com a imprensa com as tendas brancas do acampamento no território federal da fronteira como pano de fundo, após uma série de cercas metálicas.

“A dor nos trouxe aqui. A dor de saber que existem crianças separadas de suas mães; de saber que essas crianças não sabem se verão seus pais novamente. A dor de saber que o governo não nos diz a verdade”, disse De Blasio.

“Essas crianças ficaram traumatizados, essas crianças estão sofrendo mental e fisicamente”, acrescentou, em frente ao acampamento levantado na semana passada em uma base da patrulha fronteiriça de El Tornillo, no limite do Texas com o México.

Por enquanto, o lugar tem 360 camas e deve receber até 4.000 crianças para aliviar a superpopulação em outros centros infantis.

Desde que o governo Trump implementou uma política de “tolerância zero”, cerca de 2.300 crianças foram separadas de suas famílias quando cruzavam a fronteira ou entravam pedindo refúgio, o que, segundo leis nacionais e internacionais, não é um crime.

Na quarta-feira, Trump ordenou que parassem de separar as famílias, mas os críticos dizem que isso não é suficiente, pois a reunificação não acontecerá da noite para o dia.

De Blasio lembrou que apenas um dia antes ele soube que sua cidade tem, no Harlem, uma instalação que abriga 239 crianças imigrantes separadas de seus pais nas últimas semanas.

“Um menino chamado Edie, de nove anos, de Honduras, foi separado de sua mãe no Texas e enviado em um ônibus em uma viagem de quase 3.000 quilômetros até Nova York”, contou. “Pensem em quão prejudicado está tudo isso que nosso governo sequer nos diz que está acontecendo”.

Os demais prefeitos também reclamaram da falta de informação do governo, que não permitiu que políticos e a imprensa visitassem os centros de processamento de crianças do Departamento de Segurança Nacional, e o acusaram de ter criado esta “crise humanitária” na fronteira.

O prefeito de Los Angeles, Eric Garcetti, detalhou que cerca de 100 crianças foram enviadas à metrópole californiana.

“Não sabemos nada deles. Temos que nos informar por meio dos ativistas ao invés do governo”, denunciou Garcetti.

O posto fronteiriço está no meio do deserto de Chihuahua, onde o sol castiga a pele e resseca os olhos. Tudo ao redor é terra.

“Olhem ao redor. Esse é lugar aonde algum de vocês quer colocar seus filhos?”, disse a prefeita de Seattle, do estado de Washington, Jenny Durkan. “Todas essas crianças têm famílias, pais dos quais foram separados”, continuou.

No outro extremo do Texas, no povoado fronteiriço de McAllen, a primeira-dama, Melania Trump, visitou de surpresa um abrigo para crianças e um desses centros de processamento.

“Quero saber como podemos ajudar essas crianças a se juntar com suas famílias o quanto antes”, disse a primeira-dama a trabalhadores sociais e funcionários do governo.

Imagens e gravações de crianças chorando e gritando em locais gradeados como jaulas desataram a indignação internacional.