O prefeito de Istambul deposto de seu mandato Ekrem Imamoglu, de 48 anos, disse à AFP que vai fazer uma “revolução” democrática, ganhando a disputa municipal convocada depois da polêmica anulação de sua eleição.

“O que estamos fazendo é travar um combate pela democracia, uma mobilização pela democracia. Isso se traduzirá em uma revolução”, declarou Imamoglu, em entrevista à AFP em seu quartel-general de Beylikduzu, um bairro na periferia de Istambul.

“Vamos lançar um processo para reforçar a democracia na Turquia”, acrescentou.

Depois de uma série de recursos apresentados pelo partido do presidente Recep Tayyip Erdogan, nos quais denunciou “irregularidades em massa”, a Autoridade Eleitoral da Turquiia (YSK) anulou, na segunda-feira, a vitória de Imamoglu na eleição municipal de 31 de março.

A oposição ao presidente Erdogan condenou esta decisão e denunciou um “golpe contra as urnas”. Segundo os adversários de Erdogan, a Turquia estaria mergulhando em uma “ditadura”, o que provocou preocupação em vários países ocidentais.

Esta decisão “foi um golpe terrível na democracia na Turquia”, lamentou Imamoglu. Ele afirma que os membros do órgão eleitoral que votaram a favor da anulação dessa votação entrarão para a “história como uma mácula”.

A YSK defendeu sua decisão, ao afirmar que os responsáveis por algumas seções eleitorais não eram funcionários, ao contrário do que prevê a lei. A nova eleição para prefeito será em 23 de junho.

A derrota do partido presidencial AKP em Istambul foi um duro revés para o presidente Erdogan, que tinha a reputação de ser invencível nas urnas. Istambul é controlada pelos conservadores islâmicos há 25 anos.

A oposição e os analistas acreditam que, ao anular a votação de 31 de março, Erdogan se arrisca a minar a confiança dos turcos nas eleições.

Muito mais do que a eleição de um prefeito, “a eleição municipal de Istambul se tornou um combate pela democracia”, lançou Imamoglu.

– ‘Ondas positivas’ –

Quase desconhecido antes desta eleição, Imamoglu venceu a disputa eleitoral, mostrando-se como um homem simples e contrário à retórica divisiva do presidente Erdogan, enfatizando um discurso de unidade. Ele espera repetir esta receita.

“Não vou mudar minha personalidade”, afirmou. “Continuarei dando esperanças às pessoas enviando ondas positivas e mostrando o mesmo respeito”, acrescentou.

Imamoglu foi eleito em 31 de março sob a bandeira de dois partidos de oposição, o CHP (socialdemocrata) e o Iyi (direita), com o apoio tácito dos pró-curdos do HDP.

Em 23 de junho, enfrentará mais uma vez o ex-premiê Binali Yildirim, candidato do AKP, a quem derrotou com menos de 13.000 votos de vantagem.

Enquanto os opositores temem fraudes na nova eleição, Imamoglu afirma que sua formação “estará muito atenta” e “travará um combate feroz” para que a votação seja “justa”.

Nas horas que se seguiram à anulação de sua eleição, Imamoglu se esforçou para manter o ânimo de seus seguidores. Nas redes sociais, ele lançou uma campanha com a frase “Tudo terminará bem”. O slogan viralizou nos últimos dias.

“É a prova de que a Turquia tem fé na democracia. Este povo é zeloso de suas liberdades”, disse ele, reiterando que o povo vai “lutar pela democracia nas urnas”.