O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, admitiu começar a pensar em formas de remanejar os desabrigados pelas chuvas para habitações temporárias e liberar os abrigos para a retomada de aulas. A declaração foi dada em entrevista à IstoÉ.

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Segundo Melo, as escolas precisam retomar as atividades quando o nível da água diminuir e admitiu a cobrança de colégios para que os espaços que estão servindo como abrigos sejam desocupados. Entretanto, o emedebista pede paciência para conseguir encontrar alternativas para os desabrigados.

“Estamos acolhendo e vamos continuar a acolher. Mas vamos ter que começar, mais frente, a desativar os abrigos. Vamos ter que fazer uma transição entre os abrigos e onde as pessoas terão que ficar nesse período”, afirmou.

“As escolas, sejam particulares ou públicas, querem voltar às aulas. Estou pedindo paciência para resolver”, concluiu Melo.

À IstoÉ, o prefeito disse que mantém contato direto com o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), mas afirmou que a ajuda principal para a capital terá que partir do governo federal. Para ele, é necessário verba da União e até ajuda internacional para bancar a reconstrução. Só para a limpeza de Porto Alegre, são esperados gastos próximos dos R$ 100 milhões.

“Vou fazer uma conferência com o Jader [Barbalho, ministro das Cidades] para fazer um alinhamento sobre a situação habitacional. Esse é o nosso maior desafio e o mais caro. Estou tentando ver o que podemos fazer para reconstruir a cidade”.

“Temos conversado diretamente com o Eduardo [Leite], mas ele tem um estado inteiro para olhar. Contamos mais com o governo federal. Temos que criar alternativas, como os fundos internacionais. Fiz até uma carta humanitária. Não é só dinheiro, é saber para os locais onde os valores serão destinados”, afirmou.

Cais Mauá e aeroporto

Questionado sobre as obras no Cais Mauá para evitar uma nova enchente, Melo admitiu a necessidade de melhorias na barreira de proteção e estimou um gasto de R$ 5 bilhões para as obras. Sebastião Melo ainda afirmou que a modernização do local é ‘apenas um dos 200 problemas’ causados pelas chuvas.

“Precisamos ter uma conversa mais longa sobre isso. A cidade teve uma enchente parecida em 1941, foi concedido um sistema de proteção no final da década de 60. O sistema foi testado de lá para cá duas vezes, em 2015 e ano passado. [O Guaíba] nunca tinha chegado a 4 metros e 27 centímetros. Esse sistema precisa ser revisado”, declarou.

“Primeiro porque as casas de bombas têm uma cota baixa. Foram feitas manutenções, mas o sistema não foi alterado. Esse é um dos problemas. Tem mais 200. O muro resistiu, mas alguns portões não resistiram. Tem que ser tudo revisado, e não é de agora. É preciso um financiamento, trabalhar juntos. É um investimento próximo dos R$ 5 bilhões para modernizar o sistema”.

Nesta quinta-feira, 16, o vice-governador do Rio Grande do Sul, Gabriel Souza (MDB), afirmou que o Cais Mauá, responsável pela contenção do rio Guaíba, deve ser concedido à iniciativa privada. O governo estadual se eximiu de culpa pelas obras e disse que a iniciativa era da prefeitura.

Outro ponto que está próximo de um desfecho é a transferência de voos comerciais para a base aérea de Canoas. À IstoÉ, o prefeito de Porto Alegre disse que está em contato com o Ministério de Portos e Aeroportos e que uma solução deve sair em até duas semanas.

Sem possibilidade de atuar no Aeroporto Salgado Filho, destruído e alagado após as fortes chuvas, o governo gaúcho pediu autorização para atuar na base aérea militar da cidade vizinha. O Palácio do Planalto se colocou à disposição para ajudar, mas com apenas cinco voos diários no período diurno. Para atuar em Canoas, a Fraport, empresa responsável pelo aeroporto em Porto Alegre, estima gastar R$ 7 milhões.

“O que apelamos é para que se compartilhe o uso da pista de Canoas. Será preciso um investimento de R$ 7 milhões para colocar em funcionamento. Precisa alterar a pista e as necessidades para atender o aeroporto. Em tese, os voos serão na parte do dia, não haverá compartilhamento de voo à noite”, disse.

“Claro que a Fraport é uma empresa sólida. Queremos a retomada do aeroporto, mas será necessário tempo. Vamos fazer de tudo para que o aeroporto volte logo”, concluiu.