Preço do combustível será central na campanha eleitoral brasileira

Preço do combustível será central na campanha eleitoral brasileira

Mundo caminha para um choque de preços do petróleo como não ocorre há 40 anos. O presidente e candidato Jair Bolsonaro está diante de um dilema. O presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou reduzir as exportações de petróleo para países consumidores do Ocidente. Embora ainda não esteja claro o quanto a Rússia vai cortar suas exportações, é provável que o preço do petróleo suba.

Atualmente, um barril de petróleo bruto custa cerca de 130 dólares. Isso é cerca do dobro do que no início do ano. Para comparação, a última vez que o petróleo bruto custou mais foi em meados de 2008, quando o furacão Katrina interrompeu a produção no Golfo do México.

Mas agora a situação é dramática. Com a guerra da Rússia contra a Ucrânia, é possível que o preço de um barril de petróleo suba para mais de 200 dólares. Lembremos que, no início da pandemia, há dois anos, o preço do petróleo caiu abaixo de zero dólares por um curto período de tempo. As empresas petrolíferas pagaram um prêmio a seus clientes quando eles disponibilizavam suas instalações de armazenamento.

Isso agora acabou, e um debate acalorado está ocorrendo no Brasil sobre os preços dos combustíveis. Há várias semanas, o governo, a Petrobras e o Congresso vêm negociando se e como o aumento dos preços do petróleo poderia ser repassado aos consumidores. Afinal, a Petrobras não aumenta seus preços desde o início de janeiro. O diesel atualmente oferecido está cerca de 50% mais barato do que deveria custar se comparado ao preço no mercado mundial. A gasolina é cerca de um terço mais barata no Brasil.

Os preços baixos em comparação com o exterior ameaçam o fornecimento. Cerca de um quinto do combustível é importado ou produzido por empresas privadas. Para elas, vale cada vez menos a pena importar diesel e vendê-lo mais barato. O perigo de que os postos de gasolina fiquem sem gasolina é particularmente grave no Nordeste do país, onde o combustível é importado.

O presidente Bolsonaro está agora diante de um dilema. De alguma forma, a Petrobras tem que aumentar os preços nos próximos dias para evitar o risco de desabastecimento. No entanto, aumentar o preço do diesel vai impulsionar a inflação. O aumento dos preços do transporte irá acelerar ainda mais a inflação dos alimentos. E isso irá arranhar a já baixa popularidade de Bolsonaro. Mesmo o Auxílio Brasil será de pouca utilidade se a assistência social para os pobres for neutralizada por preços mais altos.

E o candidato Bolsonaro fica diante de um dilema. Ele pode compensar os preços mais altos dos combustíveis com subsídios ou incentivos fiscais, como para os motoristas de caminhão. Isso aumenta o déficit orçamentário e, portanto, as taxas de juros, e retardará ainda mais o já baixo crescimento. Ele também pode congelar os preços dos combustíveis, e corre o risco de problemas de abastecimento, adia o problema da inflação para o futuro e empurra a Petrobras para uma crise de dívida, assim como Dilma Rousseff fez há dez anos.

Não só os políticos, mas também os investidores estão curiosos sobre qual caminho Bolsonaro escolherá.

Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.