Quatro dias depois das eleições municipais, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), não conseguia disfarçar a sua dupla satisfação. Primeiro, viu seu pupilo, o empresário João Doria, vencer em São Paulo ainda no primeiro turno, algo inédito na disputa na capital. Ele confessa que nunca sonhou em ver Doria liquidar a fatura na primeira etapa do pleito. “O nosso esforço era trabalhar para vê-lo no segundo turno”. Depois, viu o PT, seu principal adversário, esfarelar no Estado, caindo de 80 prefeituras em 2012 para apenas 7 agora em 2016. Para Alckmin, no entanto, mais importante do que as vitórias pessoais foi entender os recados emitidos pelas urnas. “Esta eleição deixou uma mensagem clara: a necessidade de oxigenar a política”. Alckmin, que acalenta o desejo de disputar as prévias para a sucessão presidencial de 2018 com o senador Aécio Neves (MG), avalia ainda que o eleitor mostrou sabedoria nesta eleição. “O povo reprovou os 13 anos de poder do PT, partido que levou o País à maior crise econômica do século”.

O recado do eleitor: “O grande protagonista da derrota do PT foi o povo”
O RECADO DO ELEITOR: “O grande protagonista da derrota do PT foi o povo” (Crédito:João Castellano/ Agência Istoé)

Nem os mais otimistas tucanos imaginavam que João Doria venceria no primeiro turno. O senhor esperava esse resultado?

Todo o esforço era para que Doria fosse para o segundo turno. Foi um fato inédito. Nunca uma eleição em São Paulo havia sido decidida no primeiro turno. As eleições na capital sempre tiveram grande número de candidatos e candidatos competitivos, como ex-prefeitos. Mas esta eleição teve uma mensagem importante: a de oxigenar a política, trazer novos valores para a discussão com a sociedade. E aqui em São Paulo teve uma coisa mais importante: o PSDB teve a prévia, que ampliou a participação de setores da sociedade. Quem ganhou foi a democracia.

O senhor foi considerado um dos vencedores da eleição, não só por ajudar Doria a se eleger no primeiro turno, mas por ter imposto grande derrota ao PT em seu berço, como o ABC paulista. O senhor acha que esta vitória foi a mais expressiva desde a fundação do PSDB há 28 anos?

Primeiro temos que destacar a disciplina de trabalho do João Doria em São Paulo. Ele interagiu com a população. Ficou uma mensagem de responsabilidade fiscal, investimentos para gerar emprego, renda, simplicidade na vida, objetividade e um bom time. Política não se faz sozinho. O grande protagonista da derrota do PT foi o povo. O eleitor não erra. Mostrou que São Paulo tinha pressa para resolver os seus problemas e decidiu no primeiro turno.

Qual foi a maior lição desta eleição?

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O eleitorado reprovou os 13 anos de poder do PT, partido que levou à maior crise econômica do último século. E, de outro lado, não se conformou com a malversação dos recursos públicos. Foi uma resposta forte do eleitorado brasileiro, que mostrou uma maturidade. O povo cansou da corrupção na política.

O senhor acredita que a derrota do ex-presidente Lula pode significar o fim do lulismo?

Em política nunca se deve ter uma posição acabada, mas a situação de Lula e do PT é muito difícil. Não foram fatos isolados que levaram o partido ao fracasso, mas uma maneira de fazer política totalmente errada e que recebeu a reprovação da população brasileira.

A Operação Lava Jato foi decisiva para o desgaste do PT?

Qual o fato novo que a Lava Jato trouxe? É não ter impunidade. O ser humano não é perfeito em nenhum lugar do mundo. A diferença é que em outros países não se tem a impunidade. Tem punição. No Brasil você tinha a impunidade para o colarinho branco. Essa é a grande mudança, que está trazendo um novo tempo para a política brasileira.

“Não se pode dizer que o lulismo acabou, mas o PT está numa situação difícil.
O que levou partido ao fracasso foi uma maneira de fazer política totalmente errada”

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AFP photo/Nelson Almeida

Como resposta da população contra a corrupção, o senhor acha que os partidos têm que expurgar os fichas-sujas de suas fileiras?

Os partidos devem ter critério para filiação, lançamento de candidaturas e se democratizar. Partido não pode ser um cartório. Quando tem transparência, erra menos.

O senhor conseguiu afastar do seu governo os suspeitos de participarem de irregularidades, como na máfia da merenda ou no cartel dos trens?

Na merenda, há uma lei federal que determina que temos que comprar 30% de alimentos com o dinheiro federal da agricultura familiar. Nós abrimos três licitações. Ganhou menor preço e os produtos foram entregues. Prejuízo zero para o estado. O que aconteceu aqui é que a Polícia de São Paulo apurou e denunciou envolvidos em irregularidades. Até recomendei ao Ministério da Educação que não exija que os produtos sejam comprados das cooperativas da agricultura familiar, mas que sejam preferencialmente comprados lá.

E no caso da corrupção no Metrô?


No caso do Metrô, determinei apuração rigorosa. Abrimos processo porque as empresas fizeram cartel. O cartel foi contra o Estado. Aliás um fato interessante que é pouco divulgado. No outro governo eu abri licitação para comprar 65 trens. Escolhemos o primeiro colocado. Mas o secretário dos Transportes me disse que o preço era alto. Nós anulamos a licitação. Perdi um ano e meio. Era para entregar os trens no ano passado e estamos entregando agora. Abrimos uma licitação internacional. O preço caiu. Trabalhamos para reduzir os preços, mas se alguma empresa fora do governo faz conluio, aí temos o CADE exatamente para isso, para evitar concentração e monopólios.

Em 2006 o senhor perdeu uma eleição presidencial para o Lula falando em privatizações. Este ano João Doria venceu falando exatamente em privatizar tudo. O senhor acha que esse tema vai dominar os debates em 2018, a partir da premissa do Estado falido?

Em 2006 não perdi só por causa das privatizações. Perdi porque era o “São” Lula disputando a reeleição num quadro econômico mais favorável e sem Lava Jato, embora tivesse o mensalão. E mesmo assim a diferença foi pequena. Eu sou favorável às concessões e PPPs (Participação Público Privada).

É preciso reduzir o tamanho do Estado?

O PT criou um número de empresas estatais enorme e sem necessidade. O PT criou um quarto das empresas estatais que o Brasil tem desde a época de Dom João VI.

“Temer tem o momento e o ambiente político para fazer
as reformas porque teve 2/3 dos votos pelo impeachment”

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Marcos Corrêa/PR

O senhor acha o Brasil precisa mais de um bom gestor do que um político, a exemplo do que o Doria pregou em São Paulo?

O Brasil precisa de um choque de gestão como eu dizia em 2006. O Mário Covas dizia que o ajuste fiscal não é visão economicista. É visão social. Se não tiver uma boa gestão não vai ter dinheiro para saúde, educação, saneamento, porque não tem como aumentar mais a carga tributária.

Tucanos de São Paulo lançaram seu nome para disputar a presidência da República em 2018. O senhor está preparado para entrar no jogo sucessório?

Nós estamos em 2016. A eleição presidencial está fora da nossa agenda. Antes disso temos que ajudar a recuperar a economia. A crise é grave e todo o empenho tem que ser feito para a gente ajudar nas reformas estruturantes para ter mais confiança e poder retomar investimentos e recuperar emprego. São Paulo é parceiro do governo federal para ajudar a retomada do crescimento.

O senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, já disse que deve convocar prévias para a disputa. O senhor topa participar?

Só em 2018 nós vamos avaliar. Agora, só se for para presidente do Santos Futebol Clube.


Mas o senhor é a favor de prévias, tanto que lançou João Doria para disputar uma.

Claro que sim. Sou favorável até a mais do que isso, que os candidatos a presidente disputem primárias, como acontece nos Estados Unidos. No modelo americano um grande número de candidatos disputam a vaga de cada partido e os menos votados vão caindo até ficar um só. Só nos Estados Unidos se pode ter um Obama. Negro, nascido no Hawai e de nome Houssen. Sou favorável a ampliar a escuta da sociedade para se definir uma candidatura. Mas isso tudo é tema para o futuro.

Doria disse que se houver prévia, o senhor disputa, e, se perder, não sairá do partido. Há boatos de que se perder para o Aécio, o senhor iria para o PSB.

Eu sou o fundador de número 7 do PSDB. O primeiro é o Franco Montoro. Sou homem de um partido só. Sucessão presidencial só em 2018. Temos um quadro multipartidário. É importante ter pontes, alianças, parcerias e o PSB pode ser nosso aliado para o futuro. Mas agora temos que trabalhar pelo Brasil.

Como o senhor avalia as dificuldades para o governo Temer aprovar as reformas e a PEC dos gastos?

Eu vejo que Temer tem o momento e o ambiente político. O momento porque é início de um novo governo, tem cacife político enorme para fazer as reformas. E ambiente político. Quem teve 2/3 dos votos pelo impeachment, tem maioria para implementar as reformas. Sou favorável à PEC 241 (do teto para os gastos) e vou ajudar para que ela seja aprovada. Mas eu votaria primeiro as reformas da Previdência, simplificação das leis trabalhistas, legislação tributária e depois a PEC. Porque o risco é gastar todo o cacife político este ano votando a PEC e deixando as reformas para o ano que vem. Aí as reformas podem sair muito superficiais, perdendo o “time”. Eu faria primeiro as reformas. Elas é que vão tornar o teto exequível. A origem da crise foi a irresponsabilidade fiscal do PT.

A tese do estelionato eleitoral que teria sido cometido por Dilma em 2014, de gastar mais do que podia para garantir sua reeleição, é verdadeira?

Não há menor dúvida. Foi o populismo e a falta de responsabilidade de natureza fiscal.

O senhor acha que se Dilma não tivesse sofrido o impeachment estaríamos numa situação pior?

O impeachment é sempre traumático. Participei do impeachment de Collor. Eu era deputado federal e votei favoravelmente. O impeachment é previsto na Constituição. Não teve golpe nenhum.


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