Considerado um homem frio e calculista tanto por correligionários quanto por adversários políticos, o ministro José Serra não conseguiu conter a emoção durante a homenagem feita em Medellín aos 71 mortos no chamado voo da Chapecoense. Quarta-feira à noite, no lotado estádio Atanásio Girardot, o ministro teve a virtude de não segurar as lágrimas e, de acordo com a Rádio Caracol, uma das principais da Colômbia, proferiu um discurso “impressionante, comovente e tocante”. Segundo o locutor, Serra protagonizou um dos momentos mais emocionantes do evento. A voz embargada do ministro traduziu com o sentimento de uma Nação diante do drama da jovem equipe de Chapecó. “Uma espécie de conto de fadas com final de tragédia”, definiu o chanceler. Mas, passada a emoção inicial, o que esperamos do ministro José Serra e do governo brasileiro é uma ação implacável para que a final não jogada pela Chapecoense não fique apenas como mais uma fatalidade coletiva que momentaneamente sensibiliza os cinco continentes.

Não foi apenas um acidente. Foi um crime e criminosos precisam ser punidos

O que se sabe até agora permite afirmar que o conto de fadas da Chape e 71 vidas foram interrompidas de forma criminosa. Não foi apenas um acidente. Foi um crime e criminosos precisam ser punidos. Uma empresa aérea que disponibiliza avião para uma rota cuja distância a ser percorrida é igual ou maior do que a autonomia do combustível está cometendo assassinato coletivo. Um homicídio doloso, pois, nessas condições, o risco da queda da aeronave é tão certo como dois e dois são quatro. Foi isso o que fez a Lamia, empresa cheia de histórias mal contadas, mas que era indicada a diversos clubes pela Conmebol, a entidade sul-americana do futebol. E o que dizer da autoridade que aprovou um plano de voo em tais circunstâncias? Com pequenas variações, os manuais internacionais de procedimentos recomendam que um avião só decole se houver combustível suficiente para voar cerca de 30 minutos a mais do que o previsto. Sabe-se que no caso da Chape, uma funcionária da Agência Nacional de Aviação da Bolívia alertou para a impossibilidade daquele voo, mas suas posições foram ignoradas. E o piloto que participa de uma ação como essa? Ora, o piloto era sócio da empresa e evitou narrar à torre de Medellín que estava sem combustível para não pagar multa ou perder direito ao seguro.

A tragédia que liquidou a Chapecoense e seu sonho foi produzida pela ganância e a maior solidariedade que o governo brasileiro pode transmitir aos brasileiros enlutados é atuar para impedir que esse caso não vire apenas mais uma estatística.

 

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