O filme “Precisamos Falar”, estrelado por Marjorie Estiano, Alexandre Nero e grande elenco, retrata a realidade cruel da polarização que toma conta do mundo nos últimos tempos.

Cheia de discurso de ódio, extremismo, negacionismo, racismo, machismo, individualismo, intolerância e narcisismo, a trama produzida pela Conspiração e dirigida por Pedro Waddington e Rebeca Diniz, causa desconforto no público do início ao fim.

Tal incômodo ao assistir à história não deveria surpreender tanto, pois a dinâmica que rola ali não foge em nada do que a sociedade vive todos os dias no churrasco entre colegas, no ambiente de trabalho, na escola, na mesa de jantar com a família, em uma celebração de Natal na companhia daquele parente que aparece uma vez por ano.

Mas, por incrível que pareça, surpreende.

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A trama gira em torno de duas famílias unidas pelo elo dos irmãos Paulo (Alexandre Nero) e Celso (Emílio de Mello).

O primeiro enfrenta problemas psíquicos, foge da medicação, foi afastado das funções de professor alegando ter sido boicotado por uma “aluna cotista”, e é casado com Sandra (Marjorie Estiano), uma mulher que preza pelo amor e os bons costumes familiares.

Ambos tiveram Michel (Thiago Voltolini), um adolescente que faz bullying com o primo Jefferson (Cauê Campos), que é negro e adotado, e comete crimes de ódio pelas ruas, tendo sempre a tiracolo o primo Rick (Guilherme Cabral), que não concorda com suas atitudes, mas também não as impede.

Do outro lado está Celso, candidato ao governo do estado do Rio de Janeiro, casado com Anna (Hermila Guedes) e tem três filhos: Jefferson, Rick e Valéria (Julia Svacinna).

Ao descobrir que Michel assassinou uma moradora de rua que dormia dentro de uma cabine de caixa eletrônico, Celso vê o sonho de se tornar governador indo para o ralo, e vive o dilema de entregar o sobrinho e o filho do meio, que foi cúmplice do crime, para a polícia.

Sandra é a primeira a saber da atrocidade cometida pelo filho, que conta sobre o ocorrido na posição de vítima, alegando ter sido provocado pela moradora de rua na situação. A matriarca, então, finge não saber do caso para poupar o marido doente e livrar o filho de pagar pelo crime.

Após isso, uma teia conflituosa se forma em torno das duas famílias, até que mais uma violência acontece envolvendo os adolescentes. A partir daí, o discurso de ódio dá lugar à compaixão, arrependimento, tristeza e o debate sobre o que fazer nessas circunstâncias cai no colo do espectador. E você, o que faria?

Direção

Em entrevista ao site IstoÉ Gente, os diretores do longa explicaram os desafios de dirigir uma trama tão complexa.

“A gente tentou se isentar das nossas opiniões e deixar realmente que os personagens tomassem seus rumos e defendessem suas ideias. Não sei se a gente conseguiu exatamente dessa forma fazer uma coisa totalmente isenta, porque eu acho que sempre tem um posicionamento que fica claro de alguma forma”, afirmou Waddington.

“A gente tentou não defender um lado e agora é com as pessoas que assistem ao filme, que se propõem a ter um questionamento ético sobre a situação”, completou o diretor.

Rebeca reforçou a opinião de Pedro e acrescentou que o filme tem como objetivo mostrar que a polarização não é o caminho ideal para o debate de assuntos tão complexos, como a morte de um ou a liberdade de outro.

“O filme mostra muito isso, o quanto é difícil você ser 100% ético quando se trata do que é privado, do que é meu, e do que é público, de todos. As pessoas [que vão assistir] saem com esse sentimento de: você seria 100% ético? Nesse caso dá para ser 100% ético? Será que ser 100% ético é ser o correto? Acho que não é tão certo”, opinou.

'Precisamos Falar' prova que negacionismo, polarização e narcisismo precisam de tudo, menos falar
Cena de “Precisamos Falar” – Foto: Raquel Tanugi (Crédito:Raquel Tanugi)