A crise na Petrobras provocada pela distribuição dos R$ 43,9 bilhões em dividendos extraordinários coloca em xeque a política do governo para a estatal, com o choque entre vários ministros de Lula a respeito do destino desses recursos. Enquanto o atual presidente da estatal Jean Paul Prates insistia na divisão dos recursos entre os acionistas, o presidente Lula, com o apoio de ministros como Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), defendia que o dinheiro fosse usado para investimentos em obas do governo, sobretudo as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Já o ministro Fernando Haddad saiu em socorro de Prates, que estava por um fio para perder o cargo, defendendo que os recursos fossem utilizados pela Fazenda para melhorar o caixa do governo a equilibrar as contas públicas. Ao final desse jogo de interesses, Lula decidiu manter o executivo no posto, pelo menos temporariamente. Na verdade, o presidente continua insatisfeito com a atual direção da petroleira.

As pressões pela demissão de Prates diminuíram nesta semana depois de uma longa reunião no Palácio do Planalto na segunda-feira, 8, entre Lula e Haddad, marcada para avaliar a crise na administração na empresa e a eventual saída do dirigente da estatal petrolífera. Sem uma definição clara sobre o que fazer com o executivo, coube ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) colocar seu prestígio na mesa no dia seguinte da reunião de Lula, reforçando seu apoio a Prates.

Foi o suficiente para arrefecer a crise, que foi perdendo a força na medida em que os dias foram passando, até que a calmaria aparentemente teria voltado à empresa. Tanto que o próprio ministro das Minas e Energia chegou a dizer que tudo não passou de “especulações” sobre a saída de seu desafeto.

Prates fica ou não fica na Petrobras? Com a palavra, presidente Lula
Haddad apoia Prates e acha possível pagar 50% dos dividendos extraordinários: a crise ainda não acabou (Crédito:Mateus Bonomi)

Mas o problema é que as divergências entre Silveira e Prates estão longe de terminar. Afinal, o próprio presidente Lula continua irritado com a performance da empresa, não só em relação à política de distribuição de lucros, mas também quanto ao futuro da estratégia de preços dos combustíveis, hoje com uma defasagem de 17% no preço da gasolina em relação ao PPI (Preço de Paridade Internacional).

O presidente realmente chegou a cogitar a saída de Prates, que seria substituído por Aloizio Mercadante, presidente do BNDES. O problema é que Mercadante não manteve a confidencialidade e avisou Prates sobre as intenções de Lula, tornando o assunto como uma crise aberta nos meios de comunicação, com grande desgaste para o governo.

Apoio de Pacheco

De concreto em toda a crise, houve consenso apenas na intenção do governo enviar ao Conselho de Administração da Petrobras uma proposta de pagamento de 50% dos dividendos extraordinários aos acionistas – a União é a acionista majoritária da empresa. Ao final de uma reunião realizada no Palácio do Planalto, apenas Alexandre Silveira falou sobre os resultados do encontro – ou melhor, desconversou sobre os assuntos tratados com o presidente.

Negou que a demissão de Jean Paul Prates tenha sido tratada e pediu “paz” à petroleira. Ou seja, pediu que a empresa tenha tranquilidade para operar no dia a dia e disse que a troca do presidente da estatal cabe unicamente a Lula. “O que aconteceu entre nós foi um diálogo sobre as possibilidades”, comentou ele, na última terça-feira, 9. “O foco das nossas conversas foi sobre as questões econômicas. Discutimos como vamos revigorar a economia nacional. O resto foi só especulação. É natural que a gente tenha debate permanente com os ministros Rui e Haddad.”

Prates fica ou não fica na Petrobras? Com a palavra, presidente Lula
Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, foi um dos cotados para substituir Prates eventualmente: falou demais (Crédito:Ton Molina )

A mudança de discurso em relação à saída de Prates alterou em todos os ambientes em Brasília depois que Haddad e Pacheco conversaram na noite de terça-feira.

O presidente do Senado, que defendia publicamente a permanência de Prates à frente da Petrobras, reforçou o discurso com veemência. “O Senado se sente prestigiado com Prates na Petrobras”, disse Pacheco ressaltando que o executivo é ex-senador.

Prates ganha, assim, uma sobrevida, mas ninguém arrisca por quanto tempo, já que as rusgas com Silveira permanecem, assim como a irritação de Lula. O presidente da Petrobras ainda tem o apoio de Haddad, mas esse apoio não significa proteção.