A capital federal tem um Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília, o chamado PPCUB. Mas, acredite leitor, ele desfigura a cidade há anos, sob as mãos de “engenheiros” do Governo e “arquitetos” distritais na Câmara Legislativa do DF – os deputados equivalentes a estaduais por aí afora. O novo PPCUB aprovado ontem é uma ode ao desmazelo arquitetônico que faria Oscar Niemeyer escarrar na Esplanada e que renderia bons passeios de camburões a seus protagonistas.

Em suma, apenas para dar um cenário panorâmico do desmanche de Brasília: aprovaram o aumento do gabarito em 10 andares dos atuais hotéis pequenos de três pisos das asas Norte e Sul. Resultado é que os libaneses donos desses estabelecimentos poderão quadruplicar o preço de seus lotes para construtores que almejam construir novos espigões.

A ganância financeira vem numa velocidade que atropela o bom senso, além do conjunto planejado na origem de Brasília: não há vagas suficientes para carros e será pura especulação qualquer plano de impacto de trânsito que dê certo na área que poderá ter até 10 torres de 300 apartamentos em cada Asa.

Enquanto urbanistas, arquitetos, historiadores e outros defensores do Plano original choram a desestruturação e o crescimento desnecessário autorizado pelo Executivo e Legislativo, o alcance da malvadeza destruidora dos “arquitetos” do Poder é maior e silencioso, ultrapassando a área hoteleira.

A CLDF também aprovou construções em mais cinco lotes gigantes no setor Oeste do Eixo Monumental, do lado oposto à famosa nova Quadra 500, já cheia de prédios de luxo com o apartamento mais barato em torno de R$ 2 milhões. Pior, não regulamentou ainda a destinação da área que vai perder alguns hectares do verde nativo.

Em outra ponta da capital, mais desprezo ao conjunto de vegetação do cerrado. O verde vai virar pó em mais dois ou três hectares à beira do Lago Paranoá, ao lado da falida Academia de Tênis e do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República. A corrida ali já é grande para erguer prédios de flats.

É notório que o PPCUB tornou-se um desserviço à capital do País com um erro crasso: o paradoxo de sua nomenclatura com o carrinho de compras a céu aberto guiado pela política local nas ruas.