A 3.700 km ao oeste da costa do Chile, no meio do Oceano Pacífico, o povo polinésio rapa nui vota neste domingo (24) sobre a abertura ou não da Ilha de Páscoa ao turismo após mais de um ano e meio de isolamento pela pandemia.

O território insular do Chile não recebe turistas desde 16 de março de 2020, quando o país estabeleceu o estado de emergência e adotou restrições sanitárias ante a chegada do coronavírus. O país registra um balanço de mais de 1,6 milhão de casos e 36.000 mortes por covid-19.

No período, a ilha contabilizou apenas oito casos de covid-19 e não tem nenhum paciente desde setembro de 2020. Também não houve hospitalizações ou mortes durante a pandemia, de acordo com as autoridades locais.

Dependente da região de Valparaíso, a Ilha de Páscoa viveu os últimos meses em um isolamento quebrado apenas pelos aviões de abastecimento. Por este motivo, o povo originário rapa nui vota – em uma consulta não vinculante – sobre voltar a receber os turistas ou manter as condições atuais.

A decisão final, no entanto, será da autoridade de saúde regional de Valparaíso ou do ministério da Saúde, que não explicaram se pretendem levar o resultado da votação em consideração.

“A receita da ilha é sua indústria turística. É a fonte que movimenta a economia”, explica à AFP Salvador Atan, vice-presidente da comunidade Ma’u Henua, administradora do Parque Nacional Rapa Nui.

Atan lembra que a comunidade organiza duas assembleias por ano para prestar contas e agora deve se pronunciar sobre o turismo. Apenas as pessoas pertencentes ao povo rapa nui, que representam 60% de uma população de cerca de quase 10.000 habitantes, têm o direito de participar na consulta.

“Você quer a abertura da ilha em janeiro?”: está e a pergunta à qual os rapa nui deverão responder com ‘sim’ ou ‘não’.

– População dividida –

O dia em Hanga Roa, capital da ilha, foi marcado pela afluência da população às urnas, instaladas sob barracas ou ao ar livre.

Hugo Atan, funcionário do município, explicou à AFP que não está convencido ainda de que a ilha possa se abrir ao turismo internacional até que a pandemia esteja controlada em nível mundial e inseriu sua cédula marcada com a opção ‘não’.

“Acho que (a Ilha de Páscoa) pode viver (sem abrir), só temos que nos reinventar e lembrar do que nossos pais e nossos avós fizeram antigamente. Eles sobreviveram (sem turismo)”, afirmou.

Uri Erisa Tuki Teave considerou que a sobrevivência da ilha e sua população passa por voltar a uma economia baseada na indústria do turismo, como ocorria antes da pandemia.

“É muito simples, há quase dois anos estamos trancados, os recursos diminuíram de tal forma que chegam apenas para sobreviver”, disse ela à AFP, acrescentando que seguindo as recomendações sanitárias e vacinando-se não há porque temer a volta dos turistas.

– Duas ameaças –

A comunidade tem um dilema, segundo Atan: a pequena capacidade do sistema de saúde para minimizar contágios com a chegada de turistas e a situação econômica de um território que depende exclusivamente desta receita para sua sobrevivência.

A Ilha de Páscoa tem 73,1% da população vacinada contra o coronavírus, mas o centro médico de Hanga Roa – capital da ilha – não possui UTI, mas sim respiradores.

Além disso, apenas uma ambulância enviada há um mês do continente está equipada para tratar um paciente em risco de vida por covid-19.

“Até o fim do ano temos que fazer um passo a passo para acostumar novamente a comunidade ao uso da máscara, à vacinação do povo rapa nui e de todos que moram aqui, porque com isso vamos minimizar os efeitos da covid”, declarou Atan.

Este líder comunitário, assim como as autoridades locais, se mostra favorável à reabertura da ilha em janeiro para os turistas.

Apenas um voo da companhia Latam, saindo de Santiago, liga a ilha ao continente, e desde meados de março de 2020 não foi realizada nenhuma viagem.