Os defensores do clima, que a partir de segunda-feira participam no Marrocos da conferência anual da ONU, esperam nervosos as eleições presidenciais de terça-feira nos Estados Unidos, que podem dar a vitória a Donald Trump.

Nos últimos meses, o republicano questionou em múltiplas ocasiões a existência das mudanças climáticas e o papel do homem neste fenômeno, se referindo a estas situações como “besteiras” ou uma “farsa”.

“Estou em Los Angeles e está esfriando, o aquecimento global é uma farsa total!”, tuitou em um dia de dezembro.

Em maio, anunciou inclusive sua intenção de “anular” o tratado mundial alcançado em Paris no fim de 2015, do qual “não é um grande fã”.

Diante do papel central que os Estados Unidos – que durante muito tempo foram os primeiros, e agora são os segundos poluentes do mundo – ocupam neste assunto, não faltam razões para que estas declarações preocupem.

A negativa de George W. Bush de ratificar o Protocolo de Kyoto em 2001 encorajou Canadá, Japão e Rússia a sair do tratado.

Por sua vez, em 2015 Washington, com Barack Obama à frente, foi um artífice principal do acordo de Paris, selando um pacto com a China, outro grande poluente.

– ‘Medo generalizado’ –

“Todos os avanços que fizemos, entre outras coisas, sobre o clima (…) estarão em xeque” na terça-feira, alertou na última sexta-feira Barack Obama em uma entrevista pela televisão.

“Seria uma desgraça que o extraordinário papel de líder desempenhado pelos Estados Unidos nestes últimos anos pare”, disse o maldivo Thoriq Ibrahim, porta-voz dos pequenos Estados insulares.

Resta saber se Trump poderá realmente levar adiante uma saída do acordo de Paris, um “Parexit”, como 400 cientistas americanos chamaram o processo em uma carta aberta na qual pediram ao seu país que respeite seus compromissos.

O pacto, em vigor desde sexta-feira, prevê que os países que o ratificaram – incluindo os Estados Unidos – não possam denunciá-lo antes de quatro anos (incluindo um ano de pré-aviso).

No entanto, nada concreto impede que um deles possa voltar atrás, afirma Teresa Ribera, diretora do Instituto de Desenvolvimento Sustentável (Iddri), com sede em Paris. “O Canadá abandonou Kyoto! E o acordo de Paris não prevê sanções”, afirma.

Uma saída dos Estados Unidos não invalidaria o acordo, ressaltam os juristas interrogados pela AFP. Mas isso “seria a desculpa perfeita (para outros atores) dizerem ‘nós também!'”, adverte Ribera.

Para ela, a mera eleição de Trump ameaçaria paralisar o processo ou, ao menos, provocar um atraso prejudicial.

“Todo o mundo pararia para esperar e ver o que acontece”, teme Ribera. “Isso poderia provocar um medo generalizado. Começamos a construir uma dinâmica de cooperação para transformar nossas economias, mas todos não se comprometeram ainda, é algo delicado”.

Mais que uma saída formal do acordo, Trump pode não aplicar os compromissos assumidos por Obama, preveem os especialistas.

Aos mineiros americanos, que temem por seus empregos, já prometeu que suprimirá as medidas visando o fechamento das velhas centrais de carvão. Também prometeu impulsionar a extração em alto-mar de petróleo e gás.

– Pequim se pronuncia –

No entanto, os ecologistas ressaltam que, com Trump ou sem ele, a mudança já está em andamento, que o impacto do clima já começa a ser notado na costa da Flórida e que a transição energética (o abandono das energias fósseis, fonte do aquecimento) já é inevitável.

Pela primeira vez, a China abandonou seu silêncio habitual quando se trata de eleições no exterior.

“Acredito que um dirigente sábio deve se posicionar de acordo com as grandes tendências mundiais”, disse nesta semana aos jornalistas o negociador da China para o clima, Xie Zhenhua. “Se vai contra esta tendência, não acredito que seu povo o aprove e o progresso de seu país também será afetado”.

Jennifer Morgan, diretora do Greenpeace International, também adverte para as consequências diplomáticas de uma retirada.

“Sair de um acordo assim, aprovado por tantos países, teria consequências no âmbito da política externa”, afirma. “Se os Estados Unidos fizerem isso, terão um problema de política externa. Não é um acordo pequeno assinado por algumas autoridades”.

O acordo de Paris, que busca limitar o aumento da temperatura do planeta abaixo de 2ºC em relação aos níveis pré-industriais, foi assinado por 192 Estados.