Enquanto uma tempestade shakespeariana toma conta do Reino Unido com o descabelado primeiro-ministro Boris Johnson chacoalhando no leme do barco atingido pelas ondas da pandemia e pela crise do Brexit, Lady Kate posa para fotos como futura rainha consorte em um claro sinal de esperança. Catherine Middleton, duquesa de Sussex, casada com o príncipe e provável rei William, surgiu majestosa em toda a mídia, ao completar 40 anos no domingo, 9, já se apresentando como a nova face da realeza britânica. O objetivo por trás das fotos parece mesmo diluir a opinião de quem defende ou acredita no fim da monarquia, com a morte de Elizabeth II, e indicar que existe uma luz do fim de túnel que pode fortalecê-la nos próximos anos.
Afinal, se em geral os súditos amam a rainha e riem dos memes que “atestam” sua imortalidade, ela já está com 95 anos. E, perto de quase um século de vida, anda se resguardando – o que abre portas para a duquesa de Cambridge ser mostrada como suas antecessoras, em pinturas seculares. Fotógrafo de moda e de celebridades, Paolo Roversi fez os três retratos de sua modelo usando vestidos de Alexander McQueen, que ficarão expostos na National Portrait Gallery.

Ficou para trás a Waitie Katie, apelido-trocadilho para Kate, que esperou dez anos para se casar com o príncipe. Mãe de George, 8 anos, Charlotte, 6, e Louis, a duquesa é naturalmente discreta, exemplar, imune a encrencas e, também por isso, muito elegante. Surgiu mais glamourosa do que seu natural, nas fotos promovidas pelo Palácio de Buckinham, e abafou a crise pela denúncia de assédio sexual do príncipe Andrew, também filho de Elizabeth II e Philip (o príncipe morreu em abril de 2021). Seu irmão mais velho, o príncipe Charles, é o primeiro na linha de sucessão da rainha, que tem o herdeiro William como terceiro na fila.

TRANSIÇÃO Encontro familiar no aniversário de Elizabeth II: o presente e o futuro da Coroa (Crédito:Max Mumby/Indigo/Getty Images)

Mesmo envolvida com escândalos volta e meia, para alegria dos súditos (e o rompimento de Harry e Megan com a realeza ainda repercute), a monarquia segue em alta no reino. Pesquisa divulgada em outubro de 2021 mostra 70% de aprovação da rainha Elizabeth II, de acordo com entrevistados na Escócia, no País de Gales e no centro da Inglaterra. Charles não é tão querido quanto a mãe, que esteve no front durante a Segunda Guerra dirigindo caminhões, dentre outras façanhas gravadas na memória dos britânicos. O primeiro herdeiro, que teve casamento tumultuado com a adorada Lady Diana e depois se casou com a amante Camilla tem cerca de 45% de aprovação popular. Já Camilla tem míseros 33%.

Assim, William, Kate e as crianças são, sim, a esperança dos nobres apagarem o perigo da monarquia ser extinta depois da morte da rainha. A imagem de família dos sonhos ajudaria a realeza a sobreviver, mantendo poder e administrando a união do reino – mesmo depois da catástrofe do Brexit comandada por Boris Johnson. Se Elizabeth II “é amada porque representa toda a Grã-Bretanha em uma pessoa só”, como os britânicos gostam de lembrar, Kate já tem um bom caminho pavimentado para se tornar rainha. É a quarta colocada entre “os mais admirados da família real”, segundo o instituto YouGov, atrás da rainha e seu marido falecido, e do próprio marido, o príncipe William. Nada menos que 93% dos britânicos a conhecem e 60% gostam dela (muito perto dos 62% de Philip e William, empatados). A duquesa aparece como boa mãe, engajada em questões sociais, que segue valores tradicionais e caros aos britânicos. Ela também foi ajudada pelo contraponto tranqüilo com a cunhada Meghan Markle, casada com Henry e vista como tensa e encrenqueira. Kate Middleton se mostra como “pessoa normal”, uma referência em moda mesmo em roupas informais, e em atividades cotidianas – como levar as crianças à escola e agradecer pelo Twitter os parabéns pelo aniversário.

Há uma grande possibilidade de o príncipe Charles abrir mão do reinado em favor do filho William, segundo na linha sucessória

A monarquia britânica sobrevive, em boa parte, por Elizabeth II. Mesmo tendo aqueles que repudiam gastos com a nobreza, os britânicos em geral admiram a família real como lastro para manter a Grã-Bretanha unida, e especialmente a rainha, por sua capacidade diplomática e humor todo peculiar. Mesmo com alguns passos em falso, como apoiar a suspensão do Parlamento durante o debate do Brexit, a pedido do primeiro-ministro, ela acaba contornando situações e servindo como garantia imparcial de estabilidade para o sistema político do país. Algo que não se imagina que Charles seja capaz. Ele nem parece muito disposto a assumir o trono quando a mãe morrer, que o tornaria chefe de Estado de outros 15 países, fora a Grã-Bretanha. É bem provável que Charles queira mesmo deixar essas tarefas difíceis para o filho William, o segundo herdeiro. Uma transição poderia engasgar a opinião pública. E, rei, William já teria uma bela rainha consorte para preencher o vazio dos seus súditos.