Com uma taxa de desemprego baixa e o retorno do crescimento, a recuperação econômica fez com que Portugal se tornasse mais uma vez um país atraente para a mão de obra estrangeira, após experimentar uma emigração significativa durante a crise financeira de 2011.

“Depois de passar férias em Portugal no ano passado, constatei que havia muitas oportunidades de emprego”, disse à AFP Angelo Neto, brasileiro de 40 anos, diretor de marketing em uma empresa portuguesa de construção.

“Enquanto meu país está afundando na crise, Portugal experimenta uma recuperação econômica incrível”, afirmou Neto, que se mudou para Lisboa há pouco mais de um ano, antes de trazer sua esposa e seus dois filhos de 9 e 15 anos, no verão passado.

Hoje a sociedade que o emprega busca se desenvolver em nível internacional, com Espanha e Catar na mira.

“Fui contratado para ajudá-los neste projeto. Imediatamente me atraiu”, diz.

Como ele, muitos se interessam pelas novas oportunidades oferecidas pela economia portuguesa, que saiu da crise em 2014, três anos depois de um plano de ajuda europeu de 78 bilhões de euros em empréstimos.

– Mais imigrantes brasileiros –

Tradicionalmente país de emigração, Portugal recebeu no ano passado cerca de 30.000 estrangeiros, segundo dados do Instituto nacional de estatísticas (Ine). Cerca de 400.000 estrangeiros residiam no país já em 2016, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que publicará um informe mais detalhado em junho.

Em 2016 ocorreu a mudança, segundo dados do SEF. O país deixou para trás a crise que levou muitos portugueses a emigrarem e imigrantes instalados em Portugal a irem para outros países.

“Assistimos hoje a uma diversificação dos perfis, com uma migração mais qualificada que a que havia antes da crise”, explicou à AFP Jorge Malheiros, pesquisador no Instituto de geografia e organização territorial.

Além de europeus, atraídos principalmente por vantagens fiscais, “o país fez com que voltassem portugueses que foram embora durante a crise. Fora da União Europeia, os migrantes vêm sobretudo de países africanos de língua portuguesa, da Ásia, e sobretudo do Brasil”, acrescentou.

– Escassez de mão de obra –

Em Portugal, a recuperação econômica causou escassez de mão de obra nos setores do turismo, hotelaria e construção.

Entre 2009 e 2015 a construção perdeu 260.000 trabalhadores, “agora há 170.000 postos disponíveis”, disse à AFP Rui Campos, presidente da principal Associação portuguesa de industriais da construção (AICCOPN).

O país ibérico, que conseguiu se recuperar depois da crise da dívida em 2011, registrou em 2017 um crescimento de 2,7%, o mais forte desde 2000, e uma taxa de desemprego de 7,6% em fevereiro, o nível mais baixo em 14 anos. Para 2018, o governo aposta em um crescimento de 2,3% e uma taxa de desemprego também de 7,6%.

No primeiro trimestre de 2018, o crescimento foi um pouco menor, com um aumento do PIB de 0,4%, contra 0,7% nos três últimos meses de 2017, segundo um cálculo publicado pelo Ine. Esta redução é explicada por um retrocesso da demanda exterior.

“Estes números não são decepcionantes”, considerou o economista Rui Barbara, do banco Carregosa. Acrescentou que “é normal que o crescimento seja maior na fase inicial” da recuperação, pois depois “é mais difícil crescer” no mesmo ritmo.