Na minha frente têm três. Um do Goola Açaí e dois da Cerpa. À esquerda mais quatro, dois da VX, um da Qiado e outro da RD station. No lado direito, estão três da Salary Fits. Agronegócio, Cervejas, comunicação, tecnologia, fintechs, Import, export. Leonardo, Alan, Ângelo, Caio, Álvaro Ana e Renan. Não vou nem olhar para trás!

Na sala comum do mais badalado coworking de Lisboa, o Ávila Spaces, o Brasil está em larga maioria. Tive reuniões todos os dias e o meu primeiro portuga só chegou na sexta feira. Não é coincidência não, em Lisboa a língua está mesmo perdendo o sotaque. O Brasil está se mudando.

O bairro das Avenidas Novas na Capital portuguesa está ficando cada vez mais parecido com um Itaim Bibi dimensionado à escala Europa. Tem mais brasileiros que portugueses abrindo negócios e o som do português falado no brasil é cada vez mais comum, tanto nas reuniões de negócios como nas ruas, nos bares e nos restaurantes.

O movimento é tão intenso que a segunda vaga de emigração económica acaba de começar. Primeiro chegaram as empresas brasileiras procurando vender seu produtos e serviços para o mercado português e europeu que vinha demandando Açaís e Naturas, mas esta segunda vaga é composta também de empresas e produtos que vêm em busca de um novo mercado: os brasileiros que, cada vez em maior número, vivem em Portugal.

Recentemente um relatório da polícia de fronteiras portuguesa, que controla os números oficiais da emigração, relatava que a quantidade de brasileiros vivendo em Portugal em 2018 aumento 23,4% em relação ao ano anterior.

Mas a quantidade de cidadãos do Brasil vivendo em Portugal é bem maior do que os 105.423 das estatísticas do SEF, até porque os números oficiais não consideram brasileiros outros três grupos muito importantes. Os que têm dupla cidadania portuguesa que, desde a entrada em vigor em 2017 da nova lei portuguesa da nacionalidade, se multiplicaram; os oriundos de outros países da União Europeia, a maior parte dos 19 mil italianos a viver em Portugal são realmente brasileiros; e também não entram para a conta, por motivos óbvios, quem está em situação irregular ou quem viaje entre os dois países pelo menos uma vez a cada três meses.

Claro que podemos afirmar que algumas centenas de milhares de migrantes não é significativo no balanço migratório entre o Brasil e Portugal, só que desta vez há algo de verdadeiramente novo: as qualificações dos recém-chegados em Portugal.
Na mais recente vaga os migrantes já não chegam apenas homens e mulheres para dirigir Uber, fazer limpezas, ou dançar em boates. Os novos brasileiros chegam para investir no mercado financeiro, no imobiliário e no turismo qualificado e têm profissões liberais e criativas.

A elite brasileira que durante anos ignorou o país luso, pegou o stop over da TAP e teve uma epifania. Afinal Portugal é genial.
E fiquem espertos que a muvuca só tá começando!