Portugal celebrará na quinta-feira (25) o 50º aniversário da Revolução dos Cravos, movimento que, em 1974, acabou com a ditadura, as guerras coloniais na África e deu início à instauração da democracia.

A data emblemática coincide com o crescimento eleitoral da extrema direita no país.

Em 25 de abril de 1974, a ditadura mais antiga da Europa ocidental caiu em questão de horas, praticamente sem uma gota de sangue derramada, graças a uma revolta liderada por suboficiais rapidamente apoiada pela população.

Os cravos vermelhos, colocados nas armas dos jovens militares que deixaram os quartéis e se tornaram heróis libertadores de um povo submetido a um regime ditatorial durante 48 anos, viraram o símbolo da convulsão política, econômica e social.

A revolução abriria o caminho para a organização das primeiras eleições livres com sufrágio universal, em 25 de abril de 1975, e para o processo de independência das colônias portuguesas na África: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde.

“A guerra colonial teve uma influência fundamental para abrir os nossos olhos para a situação em Portugal”, declarou à AFP o coronel da reserva Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, herdeira do “movimento dos capitães” que organizaram a revolução há 50 anos.

– Apoio da população –

O apoio “imediato e intenso” da população ajudou a causa “dos que realmente desejavam uma mudança radical, uma libertação verdadeira e democracia”, acrescentou.

“O 25 de abril é tecnicamente um golpe de Estado que, no mesmo dia, se transformou em revolução”, explica a historiadora Maria Inácia Rezola, que coordena os programas de celebração da data, que incluem centenas de iniciativas institucionais e culturais.

Alguns dos 5.000 militares que participaram no movimento devem desfilar na quinta-feira pelo centro de Lisboa com 15 veículos do período.

Além da sessão comemorativa anual do Parlamento e do tradicional desfile popular, também estarão presentes os presidentes dos países africanos que conquistaram independência após a Revolução dos Cravos para celebrar ao lado do homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa.

Alguns pensavam que o passado autoritário de Portugal frearia a ascensão da extrema direita observada em outros países da Europa.

Mas um partido criado em 2019 se consolidou como terceira força política do país, com 18% dos votos nas recentes eleições legislativas.

Embora o fundador e presidente deste partido, André Ventura, tenha criticado o antigo regime, o partido Chega inclui saudosistas da ditadura salazarista.

– “Conhecer a história” –

“Dentro do Chega e de outros partidos, há muitas pessoas na direita que não têm uma visão negativa de (António) Salazar e seu regime”, destaca o pesquisador italiano Riccardo Marchi, especialista em direita radical do Instituto Universitário de Lisboa.

Rita Rato, diretora do Museu da Resistência e da Liberdade, criado pela prefeitura de Lisboa em uma antiga prisão onde militantes antifascistas foram detidos e torturados, reconhece que a maioria dos portugueses “sabe pouco de seu passado”.

“O contexto atual torna mais evidente a importância de que os jovens conheçam a história contemporânea do nosso país”, destacou a ex-deputada comunista.

Uma pesquisa divulgada na sexta-feira mostrou que metade das pessoas entrevistadas considera que o antigo regime tinha mais aspectos negativos do que positivos, mas 20% afirmaram o contrário.

Além disso, 65% dos entrevistados consideraram que a Revolução de 25 de abril foi o evento mais importante da história portuguesa, muito à frente da adesão à precursora da União Europeia em 1986 ou ao fim da monarquia em 1910.

Até 1974, Portugal era “um país pobre, atrasado, analfabeto e isolado do resto do mundo, que depois se modernizou em todos os níveis”, destacou Rezola.

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