Um grupo de ativistas registra os eleitores hispânicos em um complexo de edifícios no centro da Flórida – um dos mais importantes campos de batalha na corrida pela Casa Branca.

A má notícia para os republicanos é que a maioria dos que estão dispostos a se registrar antes do fim do prazo, nesta terça (18), é porto-riquenha.

A demografia da Flórida mudou nitidamente desde a eleição de 2012. Um milhão de hispânicos se mudou para esse estado desde então. Grande parte é de porto-riquenhos que fugiram da crise financeira na Ilha e se instalaram no centro da Flórida – sobretudo, em Tampa e em Orlando.

Ana Iris Vázquez, uma dona de casa de 54 anos, prepara o almoço em seu apartamento em Orlando quando a campainha toca. São duas mulheres da Mi Familia Vota, uma ONG que se ocupa de registrar os hispânicos com direito a votar.

“Em Hillary!”, diz Ana Iris ao repórter da AFP, ao ser questionada sobre em quem ela votará.

“Esse senhor nos discrimina, ele nos denigre. Que futuro vai nos esperar com essa pessoa e da maneira que fala!”, acrescenta, referindo-se ao republicano Donald Trump.

Ana Iris e seus compatriotas têm uma responsabilidade inesperada na corrida pela Presidência americana.

Tradicionalmente democratas, os porto-riquenhos são capazes de inclinar a balança da Flórida para Hillary Clinton.

“A imigração de porto-riquenhos atingiu verdadeiramente a quantidade de hispânicos registrados para votar no centro da Flórida”, disse à AFP o diretor de Pesquisas Hispânicas, Mark Hugo López, do Pew Center.

Diferentemente de outros imigrantes que devem esperar anos para votar, os “boricuas” são cidadãos americanos e podem participar das eleições apenas alcançando terra firme, já que a Ilha é um estado livre associado dos Estados Unidos.

Atualmente, 1,9 milhão de hispânicos registrados para votar representam 15,4% do eleitorado da Flórida. Segundo o Pew, entre 2006 e 2016, a quantidade de hispânicos registrados aumentou 61%. A maioria é afiliada ao Partido Democrata.

Com 20,2 milhões de habitantes (24,5% deles hispânicos), a Flórida é o terceiro estado mais populoso do país.

Além de seu tamanho, o que faz dele um estado-chave é sua oscilação entre uma e outra tendência com uma margem muito pequena entre ambos os candidatos.

Em 2000, a Flórida protagonizou a ainda questionada recontagem de votos que levou o republicano George W. Bush à Presidência.

Há décadas, os republicanos não ganham a Presidência, sem vencer na Flórida. A última vez que isso aconteceu foi em 1923, com a vitória de Calvin Coolidge.

Isso explica o motivo pelo qual Hillary e seu oponente, Donald Trump, estão cortejando tão ferozmente a população da Flórida nesta reta final da campanha.

A Flórida é eleitoralmente complexa, porque não é homogênea. De um modo geral, o sul é democrata, o norte, republicano, e o centro, foco migratório de porto-riquenhos democratas e aposentados republicanos, e o verdadeiro campo de batalha.

“Qualquer coisa pode acontecer, porque o estado está dividido muito equitativamente”, diz o professor associado de Política e Relações Internacionais Kevin Hill, da Universidade Internacional da Flórida (FIU).

Segundo o site RealClearPolitics, em 14 de outubro, Hillary tinha 6,7 pontos de vantagem em relação a Trump em nível nacional, mas na Flórida a diferença era de apenas 2,7 pontos.

Uma enquete do Pew divulgada em 11 de outubro aponta que cerca de seis em cada dez latinos registrados para votar no país (58%) são a favor da ex-secretária de Estado, enquanto apenas 19% apoiam o magnata do setor imobiliário.

Com o fim do prazo, nesta terça, para se registrar para votar, o desafio agora será combater a abstenção.