Parecia que esse dia não chegaria nunca, que a pandemia nos impediria para sempre de entrar novamente em salas de espetáculos. Mas o pior passou e o momento agora é de aproveitar o que a cultura nos pode oferecer de melhor.

Ainda com todos os cuidados mantidos, álcool gel, distanciamento e máscara, o certo é que a ciência está vencendo e as pessoas começam a se sentir mais livres. Após longo período, o Teatro Alfa retoma suas atividades e traz de volta sua aguardada Temporada de Dança, que começa neste fim de semana, dias 16 e 17, com a apresentação da São Paulo Companhia de Dança. E segue com o Grupo Corpo, de 27 a 31, e a Cia. de Dança Debora Colker, de 4 a 14 de novembro. Todos os grupos vão brindar o público com coreografias novas, além de outras de repertório.

“Abrir a Temporada de Dança do Teatro Alfa, de forma presencial, é um momento de comemorarmos juntos a presença misteriosa da vida compartilhada”, comemora Inês Bogéa, diretora executiva e artística da SPCD, que destaca ser o tempo presente o foco dos trabalhos que a companhia apresentará no Alfa. Serão três coreografias, duas de repertório, Anthem (2019), do espanhol Goyo Montero, e Respiro (2020), de Cassi Abranches, e uma nova, Umbó (2021), de Leilane Teles.

Inês explica rapidamente do que se trata cada coreografia. Anthem, segundo ela, lembra da importância de nos reconhecermos como iguais mesmo nas diferenças. Com relação a Respiro, ela conta que a coreógrafa “trouxe uma dança para comemorar e apreciar a vida”. Quanto a Umbó, trata-se de uma obra que “fala de cultivar o passado para vivermos mais intensamente o presente e seguirmos juntos”, afirma a diretora.

Segundo Inês Bogéa, ter essa parceria com a jovem coreógrafa baiana Leilane Teles é fundamental para estabelecer diálogo com as novas gerações de coreógrafos brasileiros. “Como diretora da São Paulo Companhia de Dança, procuro conhecer os artistas e buscar conexões das ideias de cada um com a identidade da companhia.” O contato com o trabalho da Leilane ocorreu em 2020, conta Inês, que diz que na época buscava artistas para colaborar com a produção audiovisual da cia. “Me chamou atenção a sua maneira particular de encadear as ideias e os movimentos”, diz sobre Leilane e conta que, após conversarem, a coreógrafa lhe apresentou a proposta de Umbó.

Para Leilane, o trabalho com a SPCD propicia uma experiência que ela diz ser essencial. “Está sendo incrível, um momento muito especial para mim, para os bailarinos, para minha carreira, para essa história toda que estou tentando comunicar”, afirma a coreógrafa. Estar na São Paulo Companhia de Dança, trabalhando hoje no Brasil, como artista, é para a bailarina um privilégio. “É muito fácil trabalhar com esses bailarinos, porque eles são muito experientes. Estou muito ansiosa para estar no teatro novamente e ver o trabalho nascer. Faço dança para o público. Acredito numa arte que além do que eu sinto é o que o outro vai sentir também quando assiste”, diz Leilane.

Com carreira plural, tendo em seu currículo não apenas a dança, mas trabalhos como atriz, Leilane Teles conta que a palavra umbó, que dá nome ao espetáculo que preparou para a SPCD, é na verdade uma expressão popular em Salvador, que significa “Vamos Ali! Vamos embora!”. Com isso, ela faz um convite ao público para entrar no teatro e apreciar essa coreografia. “Mas, além disso, a minha criação se norteia a partir de uma ideia que chamo de ‘a criação do desejo’, que é o desejo de se tornar alguém a partir de uma referência.”

A concretização dessa ideia veio com a “escolha de três artistas pretos e soteropolitanos, que são o Tiganá Santana, a Virginia Rodrigues e o Matias Santiago – que é o meu mentor na dança -, para me inspirarem para essa coreografia”. Mas isso não quer dizer que Leilane contará a história deles, nem que o espetáculo tenha cunho biográfico. “A intenção é mostrar como a arte desses três artistas influencia a minha arte, que, por consequência, vai atingir outras pessoas que se identificam com a minha história”, reflete a bailarina. Segundo ela, trata-se de “uma ação e reação”, com o espetáculo revelando “o que a arte deles provoca em mim e o que posso provocar no público”.

Como tantos outros artistas, Leilane Teles também inicia um novo período nesta fase menos intensa da pandemia. “É meu primeiro trabalho depois do processo de ficar em casa, em isolamento, o que já é marcante para mim”, conta a também atriz, que revela ser uma bailarina ainda em exercício e, por isso mesmo, acaba experimento tudo no seu corpo antes de mais nada.

“Nas três primeiras cenas que a gente construiu, eu trabalhei muito em sala de ensaio sozinha”, afirma a coreógrafa. Só após esse momento introspectivo é que ela levou para o grupo. “Quando trouxe para eles, comecei a descobrir como poderia instigá-los a fazer aquilo que estava me estimulando. E isso foi um desafio inicialmente, mas é muito legal ver a evolução dessas construções.”

SERVIÇO

SÃO PAULO COMPANHIA DE DANÇA

TEATRO ALFA

RUA BENTO BRANCO DE ANDRADE FILHO, 722, TEL. 5693-4000. SÁB., 20H; DOM., 18H. INGRESSOS: R$ 100 (PLATEIA) R$ 50 (BALCÃO). LOTAÇÃO: 780 LUGARES (70% DA CAPACIDADE, COM DISTANCIAMENTO OBRIGATÓRIO). ATÉ 14/11

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.