Vice-líder do PSL, o deputado federal Alexandre Frota sempre esteve no epicentro de polêmicas – ele é excessivamente irreverente e, digamos, casca grossa. Frota vivenciou diversos momentos de fama e de fracasso em seus 55 anos de vida, mas assegura que agora encontrou na política “uma espécie de redenção frente a um passado marcado por inúmeras situações controversas”. O fato de falar o que pensa e a disciplina fora do comum que costuma manter foram essenciais para que se visse alçado à “tropa de choque” do PSL: todos os dias, às dez horas em ponto, reúne-se com correligionários e participa de workshops políticos para entender as matérias que estão sendo discutidas em plenário. Ele diz que o seu passado como ator o ajuda a brilhar “dentro do circo”, sendo que “circo”, no caso, é a sua definição para a Câmara. Voltar a atuar na televisão? Ele garante que sequer cogita essa hipótese, ressaltando, no entanto, que o fato de ser ator facilita falar no plenário.

Como estão as articulações do governo para a provação da Reforma da Previdência?

A articulação do governo está sendo feita pelos líderes: major Vitor Hugo, Delegado Waldir, pelo presidente da Comissão Especial, Felipe Francischini, além da líder no Congresso, Joice Hasselmann. Eu os agradeço pela oportunidade que estão me dando de ajudar nesse processo. Eles estão fazendo essa articulação muito bem, a gente conta com uma assessoria boa de plenário, de comissão. Em relação ao entrosamento político, isso é como um jogo. Quanto mais tempo estivermos juntos, mais nós vamos render ali dentro. Estamos estudando cada ponto da Reforma para reunir argumentos técnicos e não ficar no discurso vazio. A reforma é importante para 200 milhões de brasileiros.

O sr. ganhou espaço como articulador, mas o PT pretende fazer obstrução a essa matéria. Como pretende anular a ação do PT na Comissão?

O PT não é mais esse bicho de sete cabeças que as pessoas acham que é. É um partido que levou o País ao fundo do poço, um partido que deixou o Brasil no caos. Lula mentiu para o povo brasileiro quando falou sobre inclusão: ele fez a exclusão. É um partido problemático, corrupto, que se envolveu com tudo que tem de podre na política brasileira. Tanto que o líder está preso em Curitiba. E o Psol é o PT que não deu certo. Esse é o Psol. O Psol tem uma retórica quadrada de “resistência”, “somos a resistência”, “acreditamos em um Brasil diferenciado”. São dois partidos que não me assustam. Na verdade, isso me dá combustível.

Quando a reforma passou pela CCJ, muito se falou que o PSL não tinha uma tropa de choque. Agora, com o sr., isso vai mudar?

O meu trabalho é determinado, objetivo e sério. Trabalho até aos sábados e domingo e acho mesmo que parlamentar deveria trabalhar aos finais de semana. Se há colegas que me consideram da tropa de choque, eu sou da tropa de choque. Mas da tropa de choque do bem. A esquerda faz o seu trabalho sujo de sempre, mas até com ela eu tenho procurado dialogar.

E o Centrão?

Eu acho que a Câmara, nesse momento, está muito polarizada entre esquerda e direita. O Centrão existe e ele tem poder, isso não se pode negar. Não adianta só falar nessa história de nova e velha política. Nova política é você querer trabalhar na direção certa, buscando o melhor, trabalhando com honestidade, trabalhando pelo Brasil e fazendo uma política limpa e verdadeira sem o toma lá da cá. Mas existe a velha política, ela não acabou e ainda há o toma lá da cá. Mas hoje o povo brasileiro não é bobo, sabe exatamente quem é quem. O Centrão é gasolina que não pode ser jogada contra o fogo pois as consequências são imprevisíveis.

É muito boa a sua relação com o general Santos Cruz, da Secretaria de Governo. Isso o ajudou a ganhar espaço?

Eu, particularmente, sou um fã do general Santos Cruz, um homem íntegro, honesto, determinado e que está ali cumprindo o seu papel. É general de carreira, um herói que esteve no Haiti, que esteve no Congo, atuou em frentes nas quais o Exército e o Brasil necessitaram de sua bravura como homem. Os ataques que ele recebe são extremamente covardes. É covardia o que faz aquele escritor, que eu acho o eremita da Virgínia, conhecido como Olavo de Carvalho, uma espécie de Jim Jones brasileiro, que não é astrólogo, não é escritor e não é professor.

Mas ele está dando as cartas no governo…

Eu não aceito o Olavo de Carvalho. Ele não fará esse governo paralelo que acha que faz. Ainda que ele tenha pessoas dentro do Palácio, como o Filipe Martins, não o aceito. O general Santos Cruz é um homem dedicado ao presidente e a todas as questões que envolvem o Brasil.

Partidos já o procuraram para sair do PSL?

O meu objetivo é me manter no PSL. Agora, se me perguntarem se estou totalmente realizado, é obvio que eu vou falar que não. O PSL, desde a campanha, me deu a legenda, mas é um partido que não me ajudou. Não tive um santinho, não tive fundo partidário, na tive nada. Priorizou outros deputados. Mas mesmo sem estrutura, fui eu um dos mais votados. Não me considero o homem forte do governo porque sou independente. Sou apenas um guerreiro. Na Câmara é guerra todos os dias. Mas eu converso com muitos partidos, tenho uma amizade muito grande com a Renata Abreu (presidente do Podemos), ela até já falou que o seu partido está de portas aberta para mim. O PSC, com o deputado Gilberto Nascimento (PSC-SP), com o pastor Everaldo, o PRTB do Levy Fidelix, o próprio PR já conversou comigo.

Quais são os seus descontentamentos com o PSL?

Acho que o presidente poderia ter prestigiado o partido em diversos momentos, desde a transição. O PSL não é um partido privilegiado como o DEM, por exemplo. O DEM tem ministérios, tem secretarias. Acho que muitas vezes o governo Bolsonaro deixou de olhar para o PSL. O PSL é o partido que, na hora que começa o tiroteio, está lá embaixo para defender as ideias do governo. Eu passei uma temporada até discutindo, batendo boca com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, justamente por essa falta de articulação com aqueles que estão lado a lado com o governo.

O PSL vive em guerra interna…

O partido passa por um jogo de interesses. Tanto na executiva nacional, quanto nas estaduais. Principalmente na estadual de São Paulo. A estadual de São Paulo ficou muito tempo nas mãos do major Olímpio, hoje senador. Ele fez um trabalho muito bom. Mas abaixo dele foi formada uma milícia de ex-militares PMs, coronel, capitão, major, tenente, cabo, sargento, soldado. De repente, eles se apoderaram de diretórios. Aonde se anda tem um coronel, tem um tenente, tem um major que é dono do diretório de uma cidade. Isso é inaceitável. Aí o major Olímpio sai e assume o Eduardo Bolsonaro. E o Eduardo, que é um homem admirável, filho do nosso presidente, um deputado guerreiro, não tem tempo para ser o presidente do PSL estadual, já está terceirizando essa função para o reaça do deputado estadual Gil Diniz.

Diversos membros do partido dizem que alguns deputados só chegaram à Câmara pela “onda Bolsonaro”…

Eu estou com o Bolsonaro desde 2014 e muita gente entrou em 2017. Eu vi o Gustavo Bebianno chegar e sei o que ele construiu para o Bolsonaro. O que não podemos é ser injustos de não enaltecer o trabalho que o Bebianno e o deputado federal Julian Lemos fizeram pelo presidente.

O seu trabalho como ator, inclusive de filmes adultos, ajudou em sua eleição?

Eu amadureci, tenho 55 anos de idade. Hoje sou um pai dedicado, um marido apaixonado. Jamais vou poder apagar o meu passado. Eu não tenho uma borracha, então eu tenho de deixar o meu passado para trás, olhar para frente, viver o presente e prospectar esse futuro. O que o passado artístico na televisão me deu foi exatamente o fato de não ter medo de microfone, não ter medo de holofote. Eu não tenho medo de público e, quanto mais gente tiver, melhor para brilhar ali dentro daquele circo que se tornou a Câmara dos Deputados.

E o futuro do artista?

Eu realmente deixei para trás a carreira artística, não me vejo mais fazendo televisão. Trabalhei nas principais emissoras do País, fui do luxo ao lixo, conheci o sucesso e o fracasso, tive muitas vitórias e muitas derrotas. Isso me deu uma experiência de vida que talvez na Câmara ninguém tenha.

O sr. é bastante criticado por ter feito filmes pornográficos. Como responde a essas críticas?

u acho que toda crítica é justa. O importante é entender onde eu errei. Com o tempo, talvez eu tenha me tornado conservador. Eu andei muitos anos contra a correnteza. Mudei. Amadureci. Quando falam sobre os filmes pornô, eu não vejo nada demais. Não pratiquei nenhum crime. Qual foi o crime que eu cometi? Muito mais pornográfico é o que Lula, Dilma, Gleisi e tantas outras pessoas fizeram com o País. Levaram os Correios à falência, acabaram com a Caixa Econômica Federal, saquearam os cofres do BNDES, arrebentaram a Eletrobrás.

E sobre a Lei Rouanet, qual a sua posição?

A Lei Rouanet, que passou a se chamar Lei de Incentivo à Cultura, é importante. Foi criada em 1991 no governo de Fernando Collor para fomentar a cultura e para aqueles que não têm oportunidade de exercer o seu ofício sem apoio de empresas. De lá para cá, tivemos inúmeros problemas com prestação de contas, tráfico de influência, privilégios a determinados agentes culturais. Mas não podemos fazer com que uma classe inteira pague por alguns que foram beneficiados por essa farra cultural.

Como tem sido o trabalho na Ancine (Agência Nacional de Cinema)?

Minha articulação não é na Ancine, é com os produtores brasileiros para que a Agência Nacional possa voltar a fomentar o cinema no País. É sobre isso que eu tenho conversado com o ministro Osmar Terra (Desenvolvimento Social, que acumula a pasta da Cultura). Infelizmente, Osmar Terra entrou em rota de colisão comigo. Ele é um homem experiente, deputado de seis mandatos, conhecedor da causa do assistencialismo social, uma grande referência nas questões da dependência química. Mas de cultura ele não entende nada. Ele não pode ser o centroavante sem saber fazer gol.