O Campeonato Paulista feminino de futebol começa neste sábado e quase ninguém sabe. Atletas e clubes tentam dar mais um passo para a valorização da categoria. Para isso, apostam em um torneio cheio de novidades. Porém, como quase sempre ocorre, a ordem para elas é a de superar as dificuldades para conseguir mostrar valor dentro de campo.

A competição terá 16 equipes, que foram divididas em dois grupos – a divisão foi regionalizada. Assim, Corinthians, Santos, Portuguesa e Juventus se enfrentarão na primeira fase. Como ocorre no masculino, existe uma disparidade técnica e financeira entre os times.

O modesto Taubaté, por exemplo, gasta R$ 190 mil por ano com o futebol das moças. O Santos, um dos mais estruturados, investe R$ 2,3 milhões. A diferença é brutal. “As empresas começam, aos poucos, a dar mais valor ao futebol feminino. A CBF e a Federação Paulista estão democratizando a modalidade”, comemorou o técnico do Taubaté, Arismar Júnior – seu time tem 18 meninas com menos de 19 anos.

Coordenadora do Departamento de Futebol Feminino da FPF, Aline Pellegrino destaca a força da competição e espera que o torneio seja equilibrado neste ano. “O Paulista chega a incomodar (em relação a competitividade) o Brasileiro. Temos sete clubes do Estado na Série A-1 do Brasileiro e mais dois na Série A-2. Teremos um equilíbrio grande, apesar das dificuldades”, disse a ex-zagueira do Brasil.

Apesar do otimismo, o lado financeiro pesa. O campeão não receberá premiação em dinheiro – terá direito só ao troféu. Também serão dados prêmios individuais para artilheira, revelação e melhor técnico, mas nenhum deles em espécie. A esperança é que alguma empresa se interesse em patrocinar a competição durante a sua realização.

A meia e lateral-direito da seleção, Maurine, é um dos destaques do Santos. A equipe deverá mesclar titulares e reservas, já que disputará paralelamente o Campeonato Brasileiro. Maurine não quer ficar fora do Estadual. “A gente tem de dar a mesma importância porque o Paulista é tão difícil quanto o Brasileiro”, explicou a santista.

SONHO – Assim como os garotos, muitas meninas buscam uma vida melhor no futebol. É o caso, por exemplo, de Yasmim, lateral-esquerdo do Corinthians. A garota sonha em jogar na Europa e dar uma vida melhor para a família – pais (Carlos e Sônia) e os dois irmãos (Luiza e Juliano). O menino nasceu com paralisia cerebral e precisa de ajuda. “Eu quero jogar fora do Brasil um dia, até pelas dificuldades que temos aqui. Sofri preconceito no início da carreira, mas meus pais me ajudaram muito”, lembrou a atleta, de 20 anos, que antes de chegar ao clube sofreu com as provocações dos meninos na escola.

“A realidade da minha vida era apanhar jogando bola. Tomava muito empurrão, tapa, tudo. Sempre fui ‘invocada’ e ia para cima dos garotos. Quando a coisa apertava, os outros meninos me protegiam”, lembrou Yasmim.