Era 1993. O maior cantor do mundo, Frank Sinatra, estava aposentado e passava as noites assistindo a talk-shows com sua quarta esposa, Barbara. Aos 78 anos, havia decidido nunca mais pôr os pés em um estúdio. Noite após noite, o artista apelidado de “A Voz” se surpreendia ao ver entrevistas em que os colegas o citavam como influência. Foi quando lhe veio à cabeça a ideia de gravar um último álbum de duetos. Sinatra levou a ideia a “Tony O.”, como chamava seu empresário e melhor amigo, Tony Oppedisano. Ele sugeriu o álbum de duetos a Mo Ostin, presidente da Reprise, sua gravadora à época. O executivo, porém, recusou alegando que “os dias de Sinatra no estúdio pertenciam ao passado”. Tony contou a Sinatra e o cantor decidiu se vingar: ligou para Charles Koppelman, da concorrente Capitol Records, e ofereceu o projeto. “Duets” tornou-se um dos maiores sucessos da carreira de Sinatra e vendeu mais de três milhões de cópias. “Duets 2”, no ano seguinte, foi seu último álbum.

“Frank encerrou a carreira porque não queria ser uma sombra de quem tinha sido” Tony Oppedisano, ex-empresário e biógrafo (Crédito:Divulgação)

Essa é apenas uma das dezenas de histórias deliciosas que recheiam “Sinatra and Me: In the Wee Small Hours”, nova biografia do “Olhos Azuis”. Poderia ser apenas mais uma das muitas obras sobre o cantor, se não tivesse sido escrita pelo próprio amigo e empresário, Tony O. Aqui não há fofocas ou suposições: apenas memórias compartilhadas. Tony, que também é cantor e músico profissional, conheceu Sinatra aos 21 anos. Virou empresário do comediante Don Rickles e, por admirar o trabalho do amigo, Sinatra o convidou para cuidar de sua carreira.
A relação entre Tony e Sinatra nunca ficou restrita ao lado profissional. Como ambos compartilhavam a origem italiana, ele era uma espécie de “consigliere” do cantor. Sinatra sempre teve fama de ser notívago, e os dois costumavam passar as noites bebendo e conversando, ocasiões em que “A Voz” sentia-se à vontade para falar livremente. É dessas ocasiões que saem as melhores histórias do livro, como a do anel que o parceiro Dean Martin lhe deu de presente e que Tony usava como código “para Dean saber se estava conversando com Dr. Jekyll ou Mr. Hyde” – referência ao estado alcoólico de Sinatra no momento. Ou o relato emocionante sobre a decisão de encerrar a carreira em 1994, quando o cantor voltou decepcionado de uma turnê no Japão. “Ele não queria se transformar em uma sombra de quem havia sido”, conta Tony.

Marilyn assassinada

O episódio mais polêmico do livro, porém, passa longe da música ou do cinema, carreira na qual Sinatra também brilhou: ele acreditava que a atriz Marilyn Monroe havia sido assassinada a mando do chefão da Máfia, Sam Giancana, ou de Bob Kennedy, irmão do ex-presidente americano John F. Kennedy. “Frank nunca superou isso”, diz o autor, que garante que Sinatra nunca teve nada com ela pois a considerava “complicada e frágil demais”. Marilyn passara a se relacionar com Bob após o término do caso com JFK. Segundo Tony, ela nem gostava de Bob, mas queria provocar o então presidente porque ainda era apaixonada por ele. O problema é que Bob, então procurador-geral dos EUA, tinha outra personalidade. Para se valorizar em relação ao irmão, Bob revelava à atriz assuntos de Estado, top secret. Quando os irmãos Kennedy romperam definitivamente com a atriz e passaram a excluí-la de suas vidas, Marilyn caiu em depressão. No fim de semana anterior a sua morte, ela voltou a sorrir após reatar com o ex-marido, o jogador de baseball Joe DiMaggio, em um hotel em Nevada.

A atriz convocou então uma coletiva de imprensa, onde anunciaria a volta com DiMaggio. John e Bob Kennedy teriam ficado preocupados que ela contasse intimidades sobre os irmãos. Tony afirma que, segundo Sinatra, “ela teria vivido por mais tempo se não tivesse marcado essa coletiva”. Marilyn teria sido envenenada com uma overdose aplicada sob forma de um supositório do sedativo Nembutal.

Quando a saúde de Sinatra se deteriorou, Tony tornou-se ainda mais próximo das filhas, Nancy e Tina, e da esposa, Barbara. Tinha Sinatra como um segundo pai. Era uma figura tão próxima que, em 14 de maio de 1998, além de Barbara, ele era a única pessoa no quarto do hospital Cedars-Sinai, em Los Angeles, quando Sinatra fechou os velhos azuis pela última vez.

26/1/1980: uma noite histórica no Maracanã

As grandes turnês Frank Sinatra começou a se apresentar em estádios em 1974, após ver o sucesso dos shows das grandes bandas de rock. “Era o fim da era dos nightclubs em Nova York”, lembra Tony. Em 1980, o cantor fez o maior show de sua carreira, no Rio de Janeiro, para um público de 175 mil pessoas.