Uma análise profunda e minuciosa sobre a relação dos principais clubes de futebol do Brasil com a administração financeira. É desta forma que pode ser resumido o documentário “Por que Waldemar? Eis a questão do futebol brasileiro”, que estreia este sábado nos canais ESPN/Star+.

Os três episódios, que somam 2h30min de produção, mostram como a viciosa gestão dos maiores times do País, nas últimas décadas, se resumia a gastos exorbitantes, sem receita para cobrir as negociações.

O ponto inicial é a apresentação de Waldemar Lemos no comando do time do Flamengo, em 2003. O momento viralizou na internet por causa da revolta de parte da torcida rubro-negra, que queria o ex-jogador Nunes, ídolo campeão mundial em 1981, no cargo.

No primeiro episódio, o documentário relembra a invasão de grandes empresas multinacionais, que causaram uma euforia, aliada a contratações bombásticas, com direito a cifras absurdas. Este momento de êxtase em clubes como Flamengo, Corinthians, Palmeiras e Fluminense, por exemplo, durou pouco e deixou cicatrizes nos cofres dos clubes.

“O Flamengo finge que paga e eu finjo que jogo”. Célebre frase do volante Vampeta, dita durante sua rápida passagem pelo Flamengo, em 2001, exemplifica bem o momento de desorganização e descrédito pelo qual passava o futebol brasileiro, que no ano seguinte conquistaria o pentacampeonato mundial na Ásia.

O segundo episódio destaca a saída das empresas do comando financeiro e a explosão da “bolha”, o que levou muitos clubes tradicionais ao rebaixamento para a segunda divisão do futebol brasileiro no início do século 21.

Já no episódio final, o foco é no trabalho feito pelo então presidente Eduardo Bandeira de Mello no Flamengo, reestruturando o clube, que em menos de três anos deixou de atrasar a conta de água para formar um dos maiores times da história e ganhar todos os títulos na América do Sul.

Além da questão financeira, “Por que Waldemar? Eis a questão do futebol brasileiro” retrata uma questão bastante relevante: o quanto o mundo do futebol é preconceituoso com aqueles que não possuem o “estereótipo da bola”.

É contada com detalhes a vida de Waldemar Lemos, um abnegado do futebol, que faz um trabalho maravilhoso no bairro do Realengo, no Rio de Janeiro, há mais de 30 anos, grande conhecedor do futebol, estudioso, educado, inteligente, vencedor, reconhecido e respeitado por seus subalternos, mas que por não fazer parte da casta dominadora do futebol brasileiro, acabou sendo menosprezado e alvo de chacota, ao ser demitido do Flamengo, mesmo após classificar o time para a final da Copa do Brasil.

Assim, o documentário serve também como um mais que devido pedido de desculpas a Waldemar Lemos por 20 anos de injustiça.

Único ponto a criticar seria a falta de mais pessoas da imprensa envolvidas nos casos citados. A escolha por influenciadores pode dar um maior “engajamento”, mas empobrece a opinião e a informação dos fatos.