Primeiramente porque Tiradentes é um local único, pleno de atrativos.

Ali praticamente nasceu o IPHAN (Instituto Nacional de Patrimônio Histórico) cujo primeiro tombamento foi o da cidade, em função de seu desenho urbanístico e arquitetura colonial.

Paradoxalmente o que tornou Tiradentes um dos exemplares mais conservados do período colonial brasileiro, foi seu despovoamento.

Até a década de 70 haviam por ali pouco mais de 800 habitantes.

A cidade tem testemunhos únicos do período barroco, como a Igreja Matriz com o primeiro órgão brasileiro (datado de 1700), o Chafariz de São José datado de 1789 ladeado por paisagismo do modernista Burle Marx.

Em pesquisa para trabalho recente me deparei ainda com histórias como a da “Libélula Tiradentense” uma espécie única em todo mundo que habita a Serra de São José nas cercanias da cidade. Aliás, na citada serra há mais espécies de orquídeas catalogadas que em todo o território europeu, e ali, recentemente foram descobertas pinturas rupestres.

A parte as características únicas mencionadas, a cidade é um constante convite para semanas especiais:  Semana do Jazz, Semana Gastronômica, Procissões e Tapetes ornamentais durante a Semana Santa, Carnaval e é claro, a Semana Criativa.

Como já citei em colunas anteriores, acredito que o design é uma engrenagem capaz de tornar o mundo melhor.

Seja na significação de uma produção industrial, seja na valorização social do trabalho com artesão, seja dando luz para uma localidade única.

Todos esses valores são muitíssimos bem representados na Semana Criativa de Tiradentes.

O evento foi idealizado por Simone Quintas (jornalista, foi editora de renomada revista de decoração) e Junior Guimarães (administrador e Produtor cultural).

Ambos decidiram deixar o mundo corporativo com o propósito de criar o “movimento criativo” da cidade

Propósito aliás é o que rege a Semana Criativa.

Em sua 6ª edição o evento consolida-se como importante marco da economia criativa.

Alinhado ao firme propósito de valorizar artesão e preservar histórias locais.

A cada edição alguns designers brasileiros são convidados para ˜imersão” e trabalho COM a comunidade artesã.

Na edição mais recente foram convidados designers de todo país: o alagoano Rodrigo Ambrósio, a goiana karol Suguikawa, o carioca Gustavo Bittencourt, o mineiro Pietro Oliveira.

Os mesmos trabalharam com os artesãos: Allilourenço Barbosa, Bella Ladeira, Camila Mendes, Carlos Henrique Barbosa, Edna Carvalho de Santana, Leonardo Luiz da Silva, Tatiane Carvalho de Santana, Nôca, Tiago César, Wellignton Carvalho de Santana

Aliás vale destacar a forma respeitosa com a qual o evento aborda a relação entre designers e artesão. Sem hierarquia, o trabalhar JUNTO é enfatizado na semana criativa e designers assinam como coletivo junto a cada artesão.

A linha guia do evento são o resgate da ancestralidade e suas histórias.

Histórias que emocionam, como o trabalho do artesão Antônio Carlos Bech “o Nôca” da região de Prados.

Por ali, o artesão e mestre no ofício especializado no trabalho com o couro, literalmente “calçou” toda a população com sapatos feitos à mão. Ensinou o ofício também a jovem Bela Ladeira, que anos mais tarde deixou a cidade.

Posteriormente em seu retorno, procurou o velho mestre artesão e para sua surpresa, soube que Nôca, sentindo-se desvalorizado, havia abandonado o ofício.

Bela então, o convence a retomar as atividades, resgata modelos antigos com moradores da cidade, e passam juntos, a refazer o velho ofício.

Dois anos depois dessa história a dupla foi convidada a participar da SCT e assim apresentou não apenas os tradicionais (e belíssimos diga-se de passagem) calçados, como assinam peças (juntamente ao “time” de designers), como a lindíssima Cadeira Tequila.

Fotos Pedro Franco

Outro trabalho de tirar o fôlego por lá apresentado foi o “Rendando Histórias” um projeto que une os fazeres das rendeiras de Renascença da região da Aldeia de Carapicuiba aplicando seu saber sobre personagens da brincadeira local, chamada “Cavalo Marinho” uma festividade trazida do Pernambuco na qual há cantos, danças, uso de máscaras para celebrar a avida e a ancestralidade.

A coordenação artística do projeto foi da designer Têxtil Ana Vaz

Por fim, vale destacar a instalação de Fernando Ancil, artista por trás da Marcenaria Olinda que apresentava a Instalação Outro ABC

Resgatando o feitio dos bancos de madeira com aplicação de letras do alfabeto o artista convidava os usuários a interagirem, transformá-la. Um convite ao repense sobre a importância da coletividade.

O evento é cercado ainda por festividades, e necessárias discussões e apresentações.

Como a do designer multimídia Guto Requena trazendo a necessária discussão de  Arquitetura, Tecnologia e Afetos, ou ainda do estilista Dudu Bertholini  sobre a identidade e pertencimento na moda brasileira.

Este que voz escreve participou de uma necessária conversa sobre Frei Veloso, o primeiro ambientalista brasileiro (viveu no século 18) a defender as então chamadas “Matas Brasilicas” , acusar sobre o desmatamento e  registrar nossas espécies botânicas.

Seu mapeamento é ainda hoje, fonte importante para entendimento da botânica brasileira.

A Conversa inusitada teve intermediação do designer Alexandre Salles, e foi realizada junto a pesquisadora botânica Maria das Graça Brandão

Conversa rica, nada trivial a união entre designer e uma botânica…

Em minhas reflexões cada vez mais acredito que beleza é significado.

E significado é o que não falta na semana Criativa de Tiradentes.

Informações Gerais

Site: www.semanacriativadetiradentes.com.br

Instagram: semanacriativadetiradentes

Idealizadores

Simone Quintas @simonequintas

Júnior Guimarães @Junior Tiradentes

Designers – edição 2022

@karosuguikawa @gustavobittencourt @pietroliveira  @gustavobittencourt

Artesãos 2022

Couro: Nôca e bela Ladeira @aripua.calcadosfeitosamao

Rendas: @Rendeirasdaaldeia com Ana Vaz, designer têxtil @atelieranavaz

Marcenaria: Fernando @marcenariaolinda