O VAR no Brasil é “arcaico”? Para Abel Ferreira, treinador do Palmeiras, não há dúvidas na resposta. Motivo de críticas da comissão técnica nos dois últimos confrontos com o Flamengo, pela Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro, ele gera debates entre atletas, clubes e na própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que trabalha para investir em novas tecnologias para o jogo. Mas quais as diferenças entre as linhas traçadas no País e no resto do mundo?

“Chegamos a fazer um gol, mas que foi mais uma vez anulado por um detalhe. Volto a dizer: não acredito e nem confio nas linhas do VAR. Não acredito e nem confio nas televisões. Enquanto não comprarem os aparelhos que são fidedignos e necessários, eu não acredito. A tecnologia que o futebol brasileiro usa é arcaica”, exclamou Abel, em entrevista coletiva logo após empate por 1 a 1 com o rival rubro-negro.

O treinador não citou, especificamente, quais são os aparelhos “fidedignos e necessários” a que ele se refere. A Hawk-Eye é a empresa responsável pelo VAR no Brasil, mas ela também fornece as tecnologias para a Fifa e para a Uefa, em competições como Copa do Mundo, Liga dos Campeões, entre outras. Nos casos de impedimentos, as câmeras, ao redor do campo, possibilitam que os árbitros de vídeo marquem as linhas e sinalizem a infração.

O único ponto que torna o VAR brasileiro “arcaico” em relação ao europeu é a tecnologia do impedimento semiautomático, testada pela primeira vez, em larga escala, na Copa do Mundo Catar, em 2022. Nela, os lances de análise mais difícil são esclarecidos rapidamente e de maneira mais consistente, com base no rastreamento dos jogadores e da bola. O árbitro de vídeo não precisa traçar as linhas manualmente, já que o sistema entrega por conta própria, e comunica ao juiz do campo. Em seguida, são produzidos gráficos em 3D, exibidos no estádio e nas transmissões de televisão.

A Fifa explica que a tecnologia utiliza 12 câmeras de rastreamento da bola e cobre até 29 pontos de dados de cada jogador, enviando à sala de vídeo 50 quadros a cada segundo, o que gera a posição exata de cada atleta no campo. Além do impedimento semiautomático, o VAR no Brasil é semelhante àquele utilizado na Europa.

Além de Abel, John Textor também critica a tecnologia do VAR no futebol brasileiro. Em junho, ele se comprometeu a investir, com seu próprio dinheiro, em câmeras que possibilitem à CBF adotar o modelo de impedimento semiautomático. Dois meses depois, a ideia do magnata do Botafogo não saiu do papel.

Além do impedimento automatizado, o restante da tecnologia no Brasil é semelhante à adotada na Europa, com linhas traçadas manualmente e checagem de impedimento a partir do operador do VAR – além das demais infrações.

POR QUE O BRASIL NÃO TEM IMPEDIMENTO SEMIAUTOMÁTICO?

Em um mundo ideal, todos os campeonatos contariam com esta tecnologia. Mas além de competições entre seleções, como Eurocopa e Copa do Mundo, e a Liga dos Campeões, apenas o Campeonato Inglês, na Inglaterra, passará a adotar a tecnologia a partir desta temporada.

A ideia de que o VAR passasse a contar com esse sistema foi ventilada na CBF. “A gente está levantando a possibilidade de utilizar. Tirar da mão do humano”, revelou Wilson Seneme, presidente da comissão de arbitragem, neste ano. No entanto, segundo apurou o Estadão, não há como transformar este desejo em realidade – pelo menos neste momento.

Além dos custos, o maior impeditivo é a complexidade e a operação para implementar as câmeras em todos os estádios da Série A do Campeonato Brasileiro. Além daqueles que receberam a Copa do Mundo de 2014, poucos seriam viáveis para colocar a tecnologia em prática, em razão da infraestrutura necessária e da complexidade da operação envolvida.

Na prática, estas câmeras especiais precisam ser colocadas no teto de cada um dos estádios do Brasil de forma fixa. Atualmente, o VAR utiliza as câmeras das transmissões do Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e demais competições. Pela maioria das arenas serem privadas e as câmeras necessitarem de manutenções constantes, o custo teria que ser arcado, pelo menos em uma parte, pelos clubes.