Por que só o Rio pode receber uma Olimpíada no Brasil

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Visualmente, os Jogos Olímpicos são um dos grandes clichês do mundo. Medalhas, aros, tocha, pira, desfiles, arenas, voluntários, uniformes, abertura, encerramento: tudo é feito para ser facilmente assimilado e imediatamente reconhecido. Desde o acendimento do primeiro fogo, na Grécia, em uma cerimônia cheia de gente fantasiada, até o momento em que autoridades pomposamente declaram o evento encerrado, há pouco espaço para grandes surpresas estéticas e muito espaço para vergonha alheia.
Existe uma razão simples para isso: a Olimpíada é um evento feito para o mundo – e o mundo gosta de clichês.
Quando alguém viaja para a França, faz uma foto na torre Eiffel. Quando vai à China, dificilmente foge de um passeio na Grande Muralha ou na Cidade Proibida de Pequim. No Egito, como não visitar as pirâmides? São poucos os que fogem à regra.
Faço toda essa introdução para falar de algo que foi tema de discussão recente entre a equipe da ISTOÉ que cobre os Jogos Rio-2016: alguma outra cidade do Brasil poderia receber esse evento?
Na minha opinião, não.
Ao criar os Jogos Olímpicos da Era Moderna, em 1896, o Barão de Coubertin (1863-1937) decidiu que o evento deveria “pertencer” a uma cidade, e não a um país. O propósito era evitar que ideologias nacionalistas transformassem a festa do esporte em um evento político. Essa noção foi subvertida propositalmente em 1936 – para ficar em um exemplo -, quando Hitler fez da Olimpíada de Berlim uma exibição da suposta superioridade da Alemanha nazista.
Hoje, a subversão ocorre de forma menos descarada, só que com enorme força e de maneira generalizada. Os Jogos Olímpicos inevitavelmente viram a festa de um país, uma grande exibição da cultura local para o mundo. Isso é especialmente verdadeiro quando a competição acontece nessa nação pela primeira vez. É o caso do Rio de Janeiro. Foi o caso de Pequim em 2008.
Basta uma conversa de poucos minutos com um estrangeiro para notar que aquilo que nós já consideramos banal no Rio de Janeiro – a beleza natural, o povo alegre, o jeito despreocupado, até mesmo as favelas e os problemas sociais – é ansiosamente aguardado pelo mundo. E não por serem características da cidade em si, mas por serem um breve resumo do que, na cabeça das outras nações, é o Brasil. País tropical, gente feliz, praia, clima agradável e uma boa dose de pobreza. Pode não ser do seu agrado, mas é assim que o País ainda é visto por boa parte dos mais de 7 bilhões de habitantes do planeta Terra
Justamente por ser o perfeito clichê brasileiro, o Rio de Janeiro é o local ideal – e, na minha opinião, o único possível – para sediar uma Olimpíada no País. Do momento em que se faz a aproximação para o pouso na cidade até o último adeus à praia de Copacabana, tudo se encaixa direitinho.
Não se espante e tente não sentir muita vergonha quando a cerimônia de abertura, que acontece no dia 5 de agosto, mostrar tudo aquilo que você já espera. A natureza exuberante estará lá. A “beleza da mulher brasileira”, também. A mistura de povos, a pobreza, a alegria, a festa, a música, o Carnaval, a bagunça… não espere grandes novidades. O mundo não quer novidades. O mundo quer o Brasil para gringo ver.
Some a isso o fato de que o Rio reúne condições para realizar todas as provas olímpicas e você provavelmente chegará à mesma conclusão. A cidade tem mar (poluído, é verdade), lagoa (poluída, é verdade), estradas em montanhas, dois bons estádios e, agora, arenas prontas e entregues. Também tem infraestrutura hoteleira, experiência em grandes eventos (Pan, Copa, Réveillon, Carnaval) e gente acostumada a lidar com o fluxo de turistas.
O Brasil é o Rio. O Rio é o Brasil.
Deixe as surpresas para as pistas, as piscinas, os campos, as quadras e os tatames.