O Brasil está salvaguardado pelo Estado Democrático de Direito. O Brasil é uma República com a normalidade institucional característica da tripartição dos poderes: Legislativo, Judiciário e Executivo. O papel de todas as instituições públicas e de Estado está claramente definido na Constituição legitimamente promulgada em 1988 – e as Forças Armadas têm de se subordinarem à Constituição.

Explicada, assim, a engrenagem política do País, por que as Forças Armadas são tão faladeiras? Por que alguns de seus integrantes tanto opinam na vida política?

O normal na vida republicana e sob a égide do Estado de Direito é o seguinte: militares em silêncio. E silêncio. Ponto final.

Mas aqui não. A falação fica que fica! Nihil novi sub sole.

Culpa da mídia? Não.
Culpa do povo? Não.
Culpa do Lula? Claro que não.
Culpa das moças ajoelhadas à beira dos rios, que vão ensaboando e lavando roupas, e contando histórias de ingênuos namoros? Não, não, também não. Por favor, alguém me mande acordar, essas moças só existem hoje em romances pretéritos.
Culpa de torcedor de futebol insatisfeito com ponta de lança? Não; nem se sabe por qual razão ponta de lança se chama ponta de lança.
Culpa do general de três estrelas? Nada disso.
Culpa do general de duas estrelas? Bobagem essa hipótese.
Culpa do general de quatro estrelas? Não.
Culpa do cabo. Acertei?! Errou.
Culpa dos homens rudes que, segundo o grande cronista pernambucano Antonio Maria, “comem cebola crua.”? Não.
Culpa da segunda-feira? Não.
Culpa do cachalote Moby Dick? Não.
Culpa dos homens que precisam puxar qualquer assunto
para justificar o copo na mão e o cotovelo no balcão do bar? Também não.
Culpa do casal que estava fazendo sexo no alto da roda gigante? Não. Nada a ver.
Culpa de Memórias de um Sargento de Milícias ? Não.
Culpa de quem, então? Por que os militares tanto falam
e palpitam na história desse País?
Culpa dos próprios militares (não de todos), que vivem a falar que as Forças Armadas têm de ser apartidárias e impessoais já que formam instituição de Estado, mas que, na verdade, tomam partido político e ideológico desde 1889. Elas não ficam quietas em sua rotina de caserna, em sua função de policiar fronteiras e assegurar a democracia.

As Forças Armadas sempre fizeram da democracia no Brasil uma corda bamba.  Elas teimam em entrar na vida política do País. Essa culpa é uma espécie de pecado original. A República, proclamada por militares, foi vista na primeira hora pelo povo como uma “parada”, segundo o jornalista Aristides Lobo, que a tudo assistiu posicionado em uma esquina no Campo de Santana, no Rio de Janeiro. Aliás, ele acrescentou que o povo “a tudo assistia bestializado”.

A República foi proclamada sem povo, excluiu o povo, fez-se enquanto movimento da elite civil que foi buscar a elite militar e a força dos quartéis. Já passou da hora de os militares aprenderem que avida política, ideológica e partidária nada tem a ver com eles. Para isso acontecer, eles precisam se aquietar e se restringir ao cumprimento de seus deveres constitucionais.

Quanto aos civis que vivem como “vivandeiras alvoroçadas”, bulindo “com granadeiros” e provocando “extravagâncias ao poder militar” carecem de olhar o passado. Uma das maiores vivandeiras do Brasil foi Carlos Lacerda. Em 1964 deu toda força ao golpe militar porque acreditava que os generais o colocariam no Palácio do Planalto. Colocaram Lacerda na cadeia.