A República foi proclamada no Brasil em 1889, mas o País demorou cinco anos para ter o seu primeiro presidente civil eleito diretamente: Prudente José de Morais Barros, paulista do interior do estado.
Cem anos antes, isso mesmo, um século antes de a República ser instaurada no Brasil, os EUA em 1789 já elegiam em votação direta o seu primeiro presidente: o independente George Washington, que não integrava nem o partido republicano nem o partido democrata.

De volta ao nosso País, o civil Prudente de Morais foi o terceiro presidente, sucedendo a dois militares: marechal Deodoro da Fonseca e marechal Floriano Peixoto.
Vêm-se, então, já no nascedouro, diferenças fulcrais entre o início da República aqui e nos EUA (onde foi eleito o primeiro presidente do planeta pela vontade popular), e vê-se, também, nossa vida republicana ter-se inaugurado sob o jugo de militares.

Talvez isso explique a questão proposta: por que, no Brasil, militares falam tanto? E por que tanto querem atuar na política? Em outras palavras (quiça duras demais, porém a traduzir a realidade): por que militares se imiscuem o tempo todo na vida política nacional, sem sequer serem chamados?

Quando Prudente de Morais foi eleito, desembarcou no Rio de Janeiro carregando a sua mala – a esperá-lo ninguém, nem mesmo Floriano Peixoto que teria de lhe passar a faixa presidencial. Da estação de trem foi Prudente a pé a um hotel. Por que essa animosidade com um civil?

A Proclamação da República no Brasil não contou com a participação do povo, na verdade o povo sequer foi consultado. Os civis que dela tomaram parte tinham interesses políticos e financeiros a defender, juntaram-se a militares, e dessa soma pode-se concluir que Proclamação não houve – existiu, isso sim, uma quartelada.
Aliás, uma testemunha ocular, o famoso jornalista Aristides Lobo, assim descreveu o que via e sentia diante do Campo de Santana, no dia 15 de novembro de 1889: “o povo a tudo assistia bestializado, e perguntava se aquilo era uma parada militar, se era uma quartelada”.

Pois bem, foi uma quartelada, e talvez isso explique porque militares consideram-se até hoje com o direito de palpitarem na política nacional, ainda que a Constituição Brasileira lhes vede atuação política, ideológica e partidária. Não são todos, claro, mas são muitos a palpitarem — e, alguns, de forma grosseira: caso do general Augusto Heleno, que desejou que Lula estivesse doente e hospitalizado. Isso não se faz general Heleno, por mais que o senhor esteja de mal com a vida e com seu destino.

Além de Heleno, todo santo dia tem algum militar dando palpites sem que alguém o tenha convidado a falar. É o caso, por exemplo, do tenente-coronel Darlan Senna, assessor do general Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Senna é militar da ativa e ganha salário na equipe de comunicação do general que, de forma desprovida de urbanidade, deseja que Lula adoeça. Todos desrespeitam o resultado das eleições, que deu a Lula a vitória, e dessa forma desrespeitam também a Constituição. Acordam pensando em golpe de Estado, dormem sonhando com golpe de Estado. Só podem mesmo ser infelizes.

Outro militar que veio a falar em golpe para impedir a posse de Lula foi o primeiro-sargento da Marinha Ronaldo Travassos, que também trabalha com Heleno. Ele defende atos antidemocráticos e (absurdo total) lançou a tese de que eleitores de Lula devem ser executados. Isso é terrorismo, é crime que está nos Código Penal e Código de Processo Penal. E também é crime a ser respondido perante a Justiça Militar.

Ao longo da jornada republicana brasileira, em diversos momentos militares entraram na história política. Pode-se encadear: o Tenentismo que desaguou na Revolução de 30, a Revolução de 30 que, como pano de fundo, foi dar no golpe de Estado 1964 (deixando-se claro que tal golpe contou com o apoio de uma infinidade de civis).

É chegada a hora de os militares irem cuidar de seus afazeres tão bem definidos e fixados na Constituição. Chega de falarem, chega de opinarem, chega de criarem uma perplexidade por dia. Nossas fronteiras estão vulneráveis, e a eles cabe protegê-las. Ficar falando de política, isso lhes é vedado constitucionalmente. Chega!
Faz-se mister lembrar a muitos integrantes das Forças Armadas que elas, Forças Armadas, não são um Poder da República, não fazem parte da tripartição do Poder. Elas são, isso sim, uma instituição do Estado. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa!