Por que Lula não defende Marina Silva após ataques no Senado

Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Brasília (DF) 17/04/2025 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado da ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, lança o Sistema Nacional de Identificação de Cães e Gatos, SinPatinha. Assina também decreto que institui o Programa Nacional de Proteção e Manejo Populacional Ético de Cães e Gatos (ProPatinhas) Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

A audiência da Comissão de Infraestrutura do Senado da qual a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), se retirou após ataques dos senadores Marcos Rogério (PL-RO), Plínio Valério (PSDB-AM) e Omar Aziz (PSD-AM), marcou novos sinais do isolamento da ministra no governo Lula (PT).

O que Marina defendia

A ministra foi convidada à Comissão para esclarecer sua posição quanto à exploração da Margem Equatorial, bacia com alto potencial petrolífero na Foz do Amazonas.

Os esforços da Petrobras para realizar estudos que viabilizem a procura de combustível fóssil na região são encampados pelo Ministério de Minas e Energia, que estima haver 10 bilhões de barris de petróleo por lá, e ganharam o endosso de Lula, entusiasta óbvio da chance de um ‘novo pré-sal’.

Por alguns meses, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), autarquia ligada à pasta de Marina, negou licenciamento ambiental à petroleira para isso.

A resistência teve amplo apoio da ministra, em posição contrária às do chefe do Executivo, de colegas de Esplanada e da base parlamentar do governo. A resistência se tornou alvo de pressão interna e do próprio Lula, que prometeu “convencê-la” a mudar de opinião e falou em “lenga-lenga” do Ibama.

No dia 20 de maio, o órgão concedeu a licença para a realização de estudos na Margem, antecedendo o avanço de pautas que flexibilizam restrições ambientais no Congresso. Questionada pelos senadores, Marina se manteve pró-conservação.

O que Marina ouviu

Aziz, membro da “tropa de choque” governista no Senado, acusou Marina de “falar besteira sem conhecer a região” e defendeu o potencial de geração de empregos e retorno econômico para o estado do Amazonas, que representa na Casa.

Rogério, presidente da Comissão, usou o isolamento de Marina para afirmar que “nem os colegas de governo” concordavam com ela, questionou a educação da ministra após o bate-boca com Aziz e pediu que ela se pusesse “no seu lugar”.

Valério, que já sugeriu o enforcamento de Marina, disse que a respeitava “como mulher, mas não como ministra”. Foi então que ela se retirou.

Os sinais de isolamento

O primeiro ataque desferido a Marina veio de um senador da base e, na mesa da presidência da Comissão, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), acompanhou o bate-boca em silêncio. No geral, os mais atuantes parlamentares da esquerda não saem em defesa das ações do Ministério do Meio Ambiente, mesmo com a popularidade das agendas ligadas à área, e a pasta acumula derrotas no Parlamento.

A ministra disse, em entrevista ao canal GloboNews, que Lula a apoiou em telefonema por ter se retirado da comissão e expressou solidariedade pelos ataques sofridos. As manifestações públicas em sua defesa, no entanto, ficaram a cargo da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), e da primeira-dama, Janja da Silva.

A agenda de Marina representa entraves às aspirações do governo, que tem na economia o ‘Calcanhar de Aquiles’ que mune a oposição de argumentos e rebaixa a popularidade do presidente, e ainda às defesas de ministros-chave, como Alexandre Silveira, de Minas e Energia, e Rui Costa, da Casa Civil, padrinhos do ‘novo pré-sal’ e prestigiados com o chefe do Executivo.

A exploração da Margem, que tem no norte do Amapá parte promissora de seus recursos, mobiliza em especial Davi Alcolumbre (União-AP), presidente do Senado que amplia semana após semana as posições de poder no governo federal, com indicados que vão da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) ao Ministério das Comunicações. Com uma base parlamentar reduzida e infiel, as chances de Lula confrontar um de seus aliados mais influentes no Parlamento se reduzem expressivamente.

Em uma condição de menor fragilidade política da administração petista, em 2008, Marina pediu demissão do Ministério do Meio Ambiente sob este mesmo chefe sob falta de apoio do Palácio do Planalto a medidas de combate ao desmatamento na Amazônia. Os dois só voltaram a se aproximar nas eleições de 2022, quando Lula buscou dissidentes e ex-adversários para construir uma “frente ampla” nas urnas contra Jair Bolsonaro (PL).