30/09/2024 - 19:32
Nos últimos dias, visitantes do Parque do Ibirapuera, zona sul de São Paulo, têm encontrado o lago – um dos cartões-postais – da cidade verde, turvo e com uma ilha por conta do baixo nível de água. Além disso, é possível ver peixes mortos na beirada. A capital paulista, assim como várias regiões do País, enfrenta período de seca severa neste ano. No começo do mês, o Rio Pinheiros também ficou dias com uma coloração verde turva.
Segundo a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, o motivo para a mudança no aspecto da água se dá pelo processo de eutrofização, intensificado pela poluição das águas com matéria orgânica, as altas temperaturas e a falta de chuva. A mesma explicação foi dada pela Companhia Ambiental do Estado (Cetesb) para o caso do Pinheiros.
Como mostrou o Estadão, o Brasil enfrenta a seca mais grave das últimas sete décadas, desde o início das medições federais, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. É a primeira vez que a estiagem afeta de forma intensa uma região tão ampla do País, da Amazônia até o Paraná, potencializando incêndios e levando à baixa recorde dos rios.
Conforme o Cemaden, a seca tende a se agravar até novembro, de modo geral, no País. Em outubro, o município de São Paulo tem previsão de temperaturas elevadas e baixos índices de umidade, inferiores a 30%, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da Prefeitura.
Os termômetros do CGE ao longo da cidade marcam 28,4°C, em média, nesta segunda-feira, 30, e a máxima pode chegar aos 33°C. Até quarta-feira, 2, a mínima esperada é de 19ºC e máxima, de 36ºC.
Não há previsão de chuva até quinta-feira, 3, quando deve haver garoa, segundo a empresa de meteorologia Climatempo.
O que dizem as autoridades?
A Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura, responsável pelo lago do Parque do Ibirapuera, diz que, para melhorar a qualidade da água, é necessário o acionamento da bomba da fonte do lago. Entretanto, o nível mais baixo do que o habitual “impede o funcionamento do sistema de bombeamento”. Medida semelhante já vem sendo utilizada pelo governo do Estado no Rio Pinheiros, pelo mesmo motivo.
A pasta municipal afirma monitorar a situação do lago em parceria com a Urbia, concessionária responsável pela administração do parque desde 2019, mas não apontou, até o momento, ações emergenciais, diante da impossibilidade de utilizar o bombeamento.
Procurada, a Urbia afirma que realiza análises trimestrais sobre a qualidade da água do lago, conforme compromisso firmado no contrato de concessão. Mas destaca que “a responsabilidade pela qualidade da água dos cursos hídricos do parque é da Sabesp e do poder concedente (a Prefeitura)”.
A Sabesp, por sua vez, diz que “não é responsável pela gestão do lago”, mas sim dispõe de uma Estação de Flotação e Remoção de Flutuantes no leito do Córrego do Sapateiro, construída em 2000, que contribui para qualidade da água por meio da aplicação de produtos que promovem a floculação das partículas sólidas presentes na água, para serem retiradas após a suspensão na superfície . “A estação opera normalmente.”
Como acontece o processo de eutrofização?
A eutrofização, responsável por deixar as águas do lago do Ibirapuera e do Rio Pinheiros verdes, se dá pela proliferação excessiva de algas. Acontece quando há muita concentração de matéria orgânica em relação ao baixo volume líquido no corpo d’água – ou seja, para reverter a situação, é preciso aumentar a quantidade de água e/ou diminuir a quantidade de carga orgânica.
A proliferação de algas é um fenômeno que pode acontecer em rios e lagos por causas naturais, mas principalmente como resultado da ação humana, quando a água está poluída.
Derramamento de esgoto, poluentes, fertilizantes e dejetos de animais intensificam o problema, que provoca proliferação de cianobactérias e é nocivo à saúde, tanto humana, quanto animal, segundo o Ministério da Saúde.
A água do Lago do Ibirapuera vem do Córrego do Sapateiro, que passa por bairros como Ibirapuera, Vila Clementino, Vila Mariana e Itaim Bibi, na zona sul. Conforme relatórios de “Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica”, do programa Observando os Rios, da Fundação SOS Mata Atlântica, era comum o despejo irregular de esgoto no córrego nas últimas décadas.
Intervenções contra a prática e ações de preservação da nascente passaram a ser feitas por meio do projeto de despoluição do Rio Pinheiros, o que tem ajudado a melhorar a qualidade do lago nos últimos anos. Em 2022, a água do lago foi considerada “boa” pelo Observando os Rios.