Reeleito com uma votação histórica no Recife, João Campos (PSB) se tornou uma espécie de cabo eleitoral nacional da esquerda no segundo turno ao atuar além das fronteiras de seu estado por candidatos aliados do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O prefeito de 30 anos emula um papel que normalmente cabe a lideranças nacionais, como presidentes e ex-presidentes, diante da participação reduzida de Lula na campanha.

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Palanques de PT e MDB

Em 15 de outubro, o mandatário percorreu cerca de 744 quilômetros até Fortaleza, onde subiu no palanque de Evandro Leitão (PT), em um reforço emergencial a uma campanha considerada estratégica para o governo federal — a esquerda administra a capital cearense desde 2005 e viu o bolsonarista André Fernandes (PL) liderar a votação no primeiro turno.

Para rivalizar com a migração de lideranças do PDT em direção a André e atrair o eleitorado jovem (o candidato do PL tem 26 anos), Campos participou de um ato voltado à juventude fortalezense, no bairro do Benfica, e discursou: “Em Fortaleza, no Ceará, em Recife e em Pernambuco, bolsonarista não se cria”.

Para a cientista política Monalisa Torres, professora de teoria política da UECE (Universidade Estadual do Ceará), sua participação na campanha tem um “teto de influência mais baixo”, por se tratar de uma figura externa à política local. Ao site IstoÉ, Torres afirmou que ex-prefeitos, como Roberto Cláudio (PDT, que apoia André) e Luizianne Lins (PT, que apoia Evandro) tem maior peso numa decisão pela prefeitura.

Em 21 de outubro, Campos transitou mais 1.368 quilômetros até Belém, na região Norte, para reforçar a campanha de Igor Normando (MDB). Embora tenha terminado o primeiro turno à frente, a vitória do emedebista é crucial para o grupo de aliados do Planalto porque ele enfrenta o delegado Éder Mauro (PL), outro representante da “tropa de choque” bolsonarista.

Normando, por sua vez, é o candidato do governador Helder Barbalho (MDB) e do ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho (MDB). Em seu palanque, Campos reproduziu as “dancinhas” que se tornaram uma marca de sua boa penetração nas redes sociais durante a campanha eleitoral.

Foram outros 1.866 quilômetros de volta ao Nordeste para um ato de campanha em Natal, na quinta-feira, 24, no palanque de Natália Bonavides (PT). Uma das apostas de renovação do petismo nas urnas, a deputada surpreendeu ao derrotar o ex-prefeito Carlos Eduardo (PSD) em 6 de outubro e avançar ao segundo turno contra Paulinho Freire (União).

O saldo

Para o cientista político Leon Victor de Queiroz Barbosa, vice-coordenador do mestrado em políticas públicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), o papel de cabo eleitoral beneficia mais ao próprio Campos do que aos candidatos que o recebem em suas cidades.

“Os gestos do prefeito o colocam como uma liderança nacional do PSB”, afirmou ao site IstoÉ. “Não é segredo que o partido o quer no governo de Pernambuco [em 2026] para, depois, lançá-lo à Presidência da República. Se aproximar e fortalecer aliados é um passo neste sentido”, disse. O caminho projetado levaria o pessebista a reproduzir os passos do pai, Eduardo Campos, que governou o estado por dois mandatos e se lançou ao Palácio do Planalto, mas morreu em um acidente aéreo durante a campanha de 2014.

Em meio às viagens eleitorais de Campos, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), reuniu prefeitos do estado para lançar o programa “PE na Estrada”, que prevê investimentos de R$ 5 bilhões em infraestrutura viária. A  ausência do mandatário da capital é mais um sinal que antecipa o próximo passo projetado para Campos: se quiser se eleger governador em 2026, ele deverá enfrentar nas urnas justamente a incumbente.