Presente em cerca de 15% a 25% dos homens, segundo estimativa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a varicocele é uma ameaça silenciosa à saúde sexual. Ela começa a se manifestar ainda na puberdade, mas costuma ser diagnosticada somente na idade adulta, quando as complicações já são aparentes — e a infertilidade é a principal delas.
A condição caracteriza-se por um inchaço das veias testiculares em razão de um mau funcionamento das válvulas venosas, o que gera refluxo sanguíneo. É um mecanismo semelhante ao que leva à formação das varizes nas pernas, daí porque a varicocele também é popularmente chamada de varizes do escroto.
Estudos sugerem que o problema é responsável por até 40% dos casos de infertilidade primária (quando ainda não se tem um filho concebido naturalmente) e 80% dos quadros de infertilidade secundária (quando a pessoa já teve um filho concebido naturalmente). Isso torna a doença conhecida entre especialistas como a principal causa de infertilidade masculina tratável no país.
Com o envelhecimento, a qualidade seminal realmente tende a piorar. “Mas a varicocele aparece como um fator determinante que faz com que a curva dessa perda seja ainda mais acelerada na comparação com outros indivíduos”, explica Ricardo Bertolla, orientador da pós-graduação em Urologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e professor da Wayne State University, nos Estados Unidos. “Os exames iniciais em adolescentes são importantes para evitar que eles cruzem a linha para a infertilidade de maneira precoce.”
Mau funcionamento
Para conseguirem dar o devido suporte à proteção dos espermatozoides, os testículos precisam permanecer a 2°C ou 3°C abaixo da temperatura do resto do organismo, cuja média varia de 36°C a 37°C. O mecanismo natural do corpo humano para possibilitar esse resfriamento se dá por meio das veias testiculares, que se enrolam na artéria testicular, reduzindo a temperatura do sangue arterial que carrega oxigênio e nutrientes aos testículos.
Na varicocele, as veias testiculares apresentam válvulas disfuncionais ou ausentes, o que leva a refluxo sanguíneo e dilatação, prejudicando o mecanismo de troca de temperatura. Como consequência, esses órgãos ficam mais quentes, comprometendo a produção adequada de espermatozoides.
“A temperatura aumentada acelera o metabolismo das células testiculares, e essa atividade excessiva as cansa e exige delas um maior consumo de oxigênio. Tal estresse faz com que o sistema se desequilibre e comece a falhar, levando a uma diminuição na qualidade de produção dos espermatozoides. É o famoso estresse oxidativo”, explica o urologista Daniel Zylbersztejn, do Einstein Hospital Israelita.
Em 85% dos casos, a doença afeta as veias do testículo esquerdo, já que esses canais são mais longos e se conectam à veia renal em um ângulo reto, o que aumenta a pressão sanguínea e dificulta sua passagem. Mas vale lembrar que os dois testículos têm canais de comunicação entre si, portanto, os sintomas apresentados de um lado podem se manifestar no outro também.
Ameaça silenciosa
Os sintomas da varicocele podem incluir dor no testículo (que piora ao ficar em pé por longos períodos ou durante atividade física), sensação de peso anormal na região escrotal, inchaço visível no escroto e diminuição do tamanho do testículo. Só que, no geral, muitos homens não relatam esses episódios, sendo totalmente assintomáticos.
A varicocele começa a ser detectável a partir do início da adolescência, que é quando ocorrem transformações hormonais, ganho de peso e musculatura, além de um aumento do fluxo sanguíneo para os testículos. A doença pode ser dividida em três graus principais, que variam conforme a severidade.
No grau 1, ela é detectável apenas durante a manobra de Valsalva, uma técnica para identificar veias dilatadas em que o indivíduo prende a respiração e faz força para expelir o ar enquanto o urologista apalpa o escroto acima do testículo. Já no grau 2, o inchaço pode ser verificado apenas pelo toque. O grau 3 é caracterizado por uma dilatação tão grande que é visível através da pele do escroto.
“Isso significa que nem todo mundo que tem varicocele consegue perceber a varicocele só de olhar o próprio corpo”, observa Bertolla. “Como o homem não tem o mesmo incentivo que as mulheres de visitar regularmente um especialista, muitas vezes, a varicocele passa despercebida durante grande parte da vida dos indivíduos, sendo identificada apenas durante a investigação clínica para a infertilidade, por exemplo.”
Um homem com varicocele pode apresentar diminuição de volume testicular e menor concentração e motilidade dos seus espermatozoides. A condição também pode causar alteração morfológica e fragmentação dessas células. Todos esses fatores contribuem para a redução da capacidade reprodutiva.
“A varicocele é uma doença tempo-dependente: quanto mais tempo ela está presente no organismo, maior é o risco de causar prejuízos nos testículos”, diz Zylbersztejn, que é coordenador da campanha #VemProUro, da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), cujo objetivo é incentivar os jovens a visitarem o consultório regularmente desde cedo. “Nem todo homem com varicocele vai ser infértil. Calculamos que essa condição reprodutiva pode atingir cerca de 20 a cada 100 indivíduos diagnosticados nos graus 2 ou 3.”
Impacto do diagnóstico precoce
A SBU alerta que a baixa frequência de jovens do sexo masculino em consultas é um dos principais entraves para a detecção precoce da varicocele. A campanha #VemProUro reforça que os cuidados especializados devem começar logo após a entrada na puberdade, por volta dos 13 anos.
Idealmente, o jovem deve passar por consultas anuais com urologista, clínico geral, médico de família, hebiatra ou pelo próprio pediatra. Exames como o ultrassom de bolsa testicular e o espermograma são recomendados para diagnosticar a varicocele, desde que com a anuência prévia dos responsáveis.
Quanto antes o diagnóstico, melhor. Em casos leves, a condição é benigna e não demanda intervenção cirúrgica. Em geral, é necessário apenas o acompanhamento regular com o urologista. Já casos avançados podem exigir cirurgia, que consiste na ligadura das veias testiculares.
Com isso, as veias “defeituosas” são cortadas e amarradas, de modo que outros mecanismos do corpo assumem o protagonismo do controle de temperatura. Isso inclui a produção de suor e a presença do cordão espermático, estrutura que afasta os testículos do resto do corpo quando está quente e os aproxima no frio, sempre buscando manter a temperatura mais adequada para o bom funcionamento testicular.
“Nosso objetivo com a campanha é mudar a concepção de que os homens não precisam de cuidados médicos. Desde muito cedo, as mulheres são incentivadas a irem ao ginecologista e cuidarem da própria saúde. Não à toa, os dados mostram que elas vivem, em média, quase sete anos a mais do que os homens”, afirma o urologista do Einstein. “Mais do que apenas avaliar o jovem em relação a doenças, acredito que cabe ao profissional da saúde orientá-lo quanto a outras questões do seu desenvolvimento, como a importância da prática de exercícios físicos, da alimentação saudável, do sexo protegido e de tantas outras situações que possam prejudicar a saúde geral do adolescente.”
Fonte: Agência Einstein
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