O caso do menino de dez anos morto por policiais militares, em São Paulo, depois de ter roubado um carro deve servir para a reflexão sobre como o mundo está tratando crianças como ele.

Nos últimos anos, a ciência tem demonstrado que elas já começam perdendo, e muito. Jovens com uma história de vida de maus tratos, famílias desestruturadas ou passagens sucessivas em abrigos apresentam alterações cerebrais e barreiras no desenvolvimento psiquíco que tornam difícil o aprendizado, a formação da empatia e de laços afetivos.

Os efeitos podem ser sentidos mais tarde, mas o sofrimento experimentado principalmente durante os seis primeiros anos – a chamada primeira infância – leva a marcas profundas.

Acaba de ser publicado no Jornal Americano de Antropologia Física, por exemplo, um levantamento mostrando que crianças negligenciadas por seus cuidadores manifestam transformações genéticas que influenciam a maneira pela qual se expressam os genes associados ao estresse.

Elas ficam menos resistentes às pressões. “Nossos resultados estão de acordo com um campo de pesquisa em crescimento que indica que as experiências vividas nos primeiros anos deixam traços moleculares visíveis ao longo da vida e que influenciam o desenvolvimento biológico, físico e comportamental”, explicou Stacy Drury, líder da pesquisa.

No Brasil, alguns grupos trabalham para melhorar a assistência a crianças em situações de vulnerabilidade na sua primeira infância. Uma delas é a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. Na segunda-feira 6, a entidade fechou uma parceria com o Instituto Alana, também envolvida na defesa da infância, e o Tribunal de Justiça de São Paulo. O objetivo é aumentar a consciência sobre os direitos das crianças pequenas e assegurar que eles sejam obedecidos. Sempre, e por todos os que as rodeiam.