Por que as grávidas precisam tomar a vacina contra o VSR?

Imunizante, que passa a ter produção nacional, é incorporado no calendário de vacinação das gestantes e de ver disponibilizado pelo SUS ainda este ano

Mulher grávida após ter sido vacinada
Foto: Freepik

No início do último mês de setembro, a operadora de pedágio Gislaine Lopes, 36, de Itapevi (SP) se deparou com uma ótima notícia: a vacinação de gestantes e bebês contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), pelo Sistema Único de Saúde (SUS), deve ter início na segunda quinzena de novembro. A notícia foi comemorada pelas sociedades médicas, uma vez que o VSR é uma das principais causas de infecções respiratórias graves em bebês, incluindo quadros de bronquiolite. De acordo com o Ministério da Saúde, o imunizante terá produção nacional, a partir de uma parceria de transferência de tecnologia entre o Instituto Butantan e a farmacêutica Pfizer. A previsão é que as primeiras 1,8 milhão de doses sejam entregues ainda em 2025.

A novidade, no entanto, chegou tarde demais para Gislaine. Se ela tivesse a chance de ter recebido a imunização na gravidez, talvez o destino de sua filha Maitê pudesse ser outro. A menina tinha apenas 2 meses de vida, quando desenvolveu um quadro grave de bronquiolite e precisou ser hospitalizada em 2023.

Depois de três dias de internação, a bebê sofreu uma parada cardíaca que durou 19 minutos, chegou a ser reanimada e até apresentou sinais de melhora, inclusive com alguns períodos acordada, apesar dos tubos e vários aparelhos ligados a ela”, conta a mãe. Maitê parecia estar se recuperando bem dos sintomas respiratórios, a ponto de uma das médicas dizer que ela poderia ser extubada. “Ela teve uma parada cardíaca e faleceu um dia antes da data prevista para a extubação”, lamenta.

A história de Maitê foi breve, mas marcou a vida da família. Hoje, grávida novamente, Gislaine apela a todas as outras mães que tomem a vacina sem medo. “Protejam seus bebês. Pretendo fazer isso assim que for possível”, afirma.

Vacina contra VSR deve ser aplicada no segundo trimestre da gestação

A técnica de Segurança do Trabalho Amanda Vieira, 31, de Campina Grande (PB), espera sua primeira filha, uma menina, e está contando os dias para o início da aplicação da vacina. Ela já tinha ouvido falar sobre o VSR pela mídia e por relatos de outras mães. Agora, com orientação da obstetra, aguarda sua vez. “Minha médica já tinha nos alertado durante o pré-natal. Inclusive, estávamos dispostos a custear a vacina na rede privada, caso não desse tempo de tomar pelo SUS. Pretendo tomar e torço muito para que chegue em minha cidade em tempo hábil”, diz ela.

Para a pediatra Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a oferta da vacina na rede pública de saúde representa um grande avanço. “Vacinar a gestante é uma das melhores formas de proteger o bebê nos primeiros meses de vida”, afirma a médica. Ela explica que, como o sistema imune do bebê é imaturo e, nos primeiros meses de vida, não consegue responder adequadamente a infecções, a proteção se dá por meio dos anticorpos transferidos pela mãe. Tanto na gravidez, como também na amamentação, já que alguns dos anticorpos passam pelo leite materno.

O Ministério da Saúde afirmou, em comunicado à imprensa, que a vacina tem potencial para prevenir cerca de 28 mil internações por ano, além de oferecer proteção imediata aos recém-nascidos. A expectativa é de que aproximadamente 2 milhões de bebês nascidos vivos sejam beneficiados. A recomendação da pasta, que segue a Organização Mundial da Saúde (OMS), é de que a vacina seja tomada em dose única, a partir da 28ª semana de gestação.

De acordo com Ballalai, 30% das hospitalizações por VSR acontecem nos primeiros trinta dias de vida, mesmo no caso de bebês nascidos a termo, ou seja, com mais de 37 semanas de gestação – de forma prematura, o risco é ainda maior. Outras 23% das internações pelo vírus ocorrem em bebês de até 60 dias. “Mais da metade das crianças que são hospitalizadas por conta do vírus têm menos de 2 meses de idade”, alerta a pediatra. Crianças de até 3 meses, como no caso de Maitê, que tinha 2 meses e meio quando foi internada, respondem por 65% das hospitalizações por VSR. “Por isso, estar protegido neste período de vida é fundamental”, reforça a médica.

O que é o VSR e por que ele é uma ameaça à infância?

O VSR é um vírus que causa sintomas respiratórios, parecidos com os de resfriado. É comum e pode infectar pessoas de todas as faixas etárias. Na maioria delas, a recuperação é espontânea e acontece dentro de alguns dias. Inclusive algumas pessoas são assintomáticas – o que não significa que não possam transmitir o vírus adiante.

Porém, no caso de quem tem a imunidade mais baixa, como os bebês e crianças de até 5 anos, pode levar a complicações graves. “É o principal vírus que leva crianças dessa idade à hospitalização, com síndrome respiratória aguda grave, que é um quadro de doença pulmonar grave. Não raramente, implica em internação na UTI, com uso de respirador. É uma causa importante de óbito em crianças menores de 5 anos e um dos maiores motivos de atendimento infantil de emergência”, acrescenta Ballalai.

A médica aponta que os idosos são o segundo grupo de maior risco para as infecções virais, inclusive aquelas causadas pelo VSR. Prematuros, crianças com condições como síndrome de Down, fibrose cística, cardiopatias ou doenças pulmonares crônicas também são mais vulneráveis, assim como quem tem outras condições de imunodepressão.

A circulação do VSR é mais forte em períodos específicos, de acordo com cada região, embora possa haver picos fora de época. Na região Norte, o ápice costuma ser de fevereiro a junho; no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, de março a julho; no Sul, entre abril e agosto. São os meses mais frios ou que concentram mais chuvas, levando as pessoas a permanecerem por mais tempo em ambientes fechados.

Sinais de alerta do VSR

É importante que as famílias fiquem alertas aos sintomas gripais, sobretudo em crianças pequenas. “Principalmente nos casos de dificuldade respiratória e falta de ar, o atendimento médico é urgente”, alerta Ballalai. Entre os principais indícios do VSR estão:

– Tosse;

– Coriza;

– Febre;

– Aumento da frequência respiratória (dá para notar o esforço da criança pelo movimento da barriga ou pela região mais funda no centro do pescoço);

– Chiado ao respirar.

Segundo a médica, não há tratamento para o vírus, somente o controle dos sintomas. E, dependendo dos sinais que a criança apresentar, ela pode precisar de suporte intensivo, como oxigênio e respirador.

Além da vacina: outras medidas de prevenção contra o VSR

Embora a vacina das gestantes seja um passo fundamental para o combate ao VSR, a pediatra lembra a importância de focar também em outras medidas de prevenção. Como os outros vírus respiratórios, o VSR é transmitido pelo contato direto ou por gotículas provenientes de secreções do nariz e da boca de pessoas infectadas. Por isso, as recomendações são:

– Manter a vacinação em dia;

– Evitar a permanência em locais fechados ou com pouca ventilação, sobretudo no caso de bebês, crianças pequenas, idosos ou outros grupos de risco;

– Higienizar as mãos com frequência;

– Higienizar superfícies e brinquedos;

– Não compartilhar objetos como copos, talheres, canudos etc.;

– Evitar o contato com pessoas que tenham sintomas gripais.

Quando falamos em prevenção de doença respiratória viral principalmente nas escolas, as famílias precisam ter consciência de não mandar o filho para a aula se houver sintomas. Ainda que a criança apresente melhora, depois de tomar um medicamento, por exemplo, é preciso aguardar até que complete pelo menos 24 horas sem febre”, alerta a especialista da SBIm. “Quando há um rigor nos protocolos de não-frequência [de crianças sintomáticas na escola ou na creche], os casos se tornam mais raros”, completa.