O legado que Jair Bolsonaro deixará para o País quando acordarmos desse pesadelo é tão nefasto, que costumamos ter a impressão errônea de que ele é o único culpado pelo retrocesso que o Brasil assiste desde sua posse. Por sua atuação política reptiliana, menos afoita aos holofotes e mais propensa às sombras, muitas vezes nos esquecemos da participação de seu grande aliado nessa empreitada maligna: o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-Alagoas).

Ao dizer que o reajuste dos combustíveis é “um tapa na cara” do País, Arthur Lira espera que alguém acredite em suas palavras. A declaração soa muito mais como uma jogada midiática para fingir indignação, tirando das manchetes a votação que ele classificou como urgente na última quarta-feira (9) : o vergonhoso projeto de lei (191/20), que libera a exploração mineral em terras indígenas.

O requerimento apresentado pelo líder do governo, Ricardo Barros (PP-RR), foi aprovado por 279 deputados. Veja aqui como cada um desses apoiadores da destruição do meio-ambiente votou.

O mundo inteiro sabe que Bolsonaro e os integrantes do seu governo não têm, digamos, simpatia pelos indígenas. Usar a desculpa de que o Brasil precisa explorar suas terras para compensar o potássio perdido com a interrupção do fornecimento dos fertilizantes russos é querer enganar os brasileiros. Dados oficiais do Serviço Geológico Brasileiro e da Agência Nacional de Mineração, analisados por especialistas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), revelam que não há registro de jazidas de potássio nas reservas indígenas.

Ao colocar para votação a urgência desse PL criminoso, o deputado Arthur Lira apenas confirma sua submissão a Bolsonaro e à bancada beneficiada com as verbas do Orçamento Secreto – fortunas que serão usadas para tentar perpetuá-los no poder.

Como presidente da Câmara, Arthur Lira representa 200 milhões de brasileiros. Mas sua grande preocupação, vejam só, é com seu próprio futuro. Coincidência ou não, ele ajudou a conceber a nova Lei de Improbidade que anula a condenação contra… ele mesmo, além de outros acusados na mesma situação.

Arthur Lira foi condenado por improbidade por desviar verbas da Assembleia de Alagoas na Operação Taturana, de 2007. Já foi condenado em primeira e segunda instância, mas, com a mãozinha do Congresso, poderá sair livre dessa. Vejam que singelo: a lei sancionada em outubro de 2021 pelo presidente Jair Bolsonaro altera o prazo de prescrição de casos exatamente como o dele. Como sua acusação corre há dez anos, Lira pede que ela seja anulada. Bom saber que o presidente do Congresso se interessa por uma lei que vai beneficiar diretamente o desenvolvimento do Brasil, não é?

Bolsonaro e Lira se merecem. Quem não os merece somos nós, brasileiros.