Em vez de livros, armas. Em vez de humanidade e fé, pastores lobistas cobrando propina. Em vez de respeito às leis, tentativa de passar por cima delas para benefício próprio. Poucas imagens representam tão bem o governo Bolsonaro como o episódio do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro – que também é pastor evangélico – tentando desarmar um revólver no aeroporto, no balcão de uma companhia aérea, e atirando acidentalmente contra uma funcionária.

Está tudo ali: a violência (por que um educador/pastor precisaria levar uma arma no avião?); a falta de respeito pelas leis (quem viaja armado deve descarregar a arma em local apropriado, o que ele deliberadamente não fez); a sociedade pagando por toda essa ignorância (a funcionária atingida por estilhaços da bala).

Milton Ribeiro deveria ser preso por tentativa de homicídio culposo. Ao não obedecer às regras da ANAC em relação ao manuseio de armas, ele colocou em risco todas as vidas que estavam ao seu redor. Se um ser humano como esse tem a coragem de fazer isso em um aeroporto, fico imaginando quantas vezes ele repetiu o gesto quando era educador, perto de professores e crianças, ou em seus cultos, perto dos fiéis. A pior face do governo Bolsonaro é essa: a conduta do presidente e de quem está ao lado dele tornou normal o absurdo.

Pensar que um homem irresponsável como esse estava à frente do ministério mais importante do País deveria causar asco na sociedade. Tem gente que acha isso normal. O objetivo de destruir tudo que foi construído na sociedade brasileira nas últimas décadas no Brasil está dando certo: depois de um nazista cuidando da Cultura, tivemos um pastor armado na Educação disparando uma bala perdida em um aeroporto. Se fosse um morador de uma favela já estaria preso há muito tempo.

Não custa lembrar que, no mesmo ministério, já tivemos um indivíduo que queria prender os ministros do STF, mas mal sabia escrever (Abraham Weintraub); um obscurantista que tentou vigiar as escolas filmando as crianças cantando o hino nacional (Ricardo Vélez Rodríguez) e um professor que nem chegou ao assumir porque havia fraudado o próprio currículo (Carlos Alberto Decotelli). Você acha que essas pessoas servem de exemplo para alguma criança? Você gostaria que um deles estivesse numa sala de aula com seus filhos?

Se a gestão pública do Brasil fosse uma escola, esses ministros seriam todos reprovados. Mas a questão principal dessa prova não pode ser esquecida: eles seguem apenas a cartilha de Jair Bolsonaro, um presidente que merece nota zero em todas as matérias.