A Argentina busca auxílio do Fundo Monetário Internacional (FMI) para estabilizar sua economia, que sofre com fortes pressões cambiárias, 17 anos depois da maior crise sua história.

Todas as moedas da região sofreram com o aumento do rendimento da dívida americana, pois investidores migraram para o dólar. Mas o peso argentino foi o mais abalado: se desvalorizou mais de 10% em maio.

Esse é um duro golpe para o presidente Mauricio Macri, que eliminou os controles cambiais ao assumir, em dezembro de 2015.

Quatro analistas explicam a atual crise argentina.

– Por que a Argentina é mais vulnerável que outros países?

Os analistas acreditam que a Argentina é mais facilmente afetada devido a sua dependência do financiamento externo, ao seu déficit fiscal e ao déficit comercial.

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“A conta corrente da balança de pagamentos tem um saldo deficitário de mais ou menos 5% do PIB. Para os países emergentes, é um nível alto. Do outro lado, somando governo federal, estaduais e dívida do Banco Central pelos bônus, o déficit fiscal é de 9% ou 10% do PIB. Quando um país está assim, qualquer evento externo pode lhe lançar em uma crise cambial, fiscal ou bancária”, indicou Héctor Rubini, pesquisador da Universidade Argentina da Empresa e da Universidade del Salvador.

Além disso, os investidores financeiros buscam sempre as praças com melhor rendimento e, desde o fim de 2017, o governo de Macri começou a enfrentar maior conflito social à medida que avança gradualmente em ajustes econômicos.

“A Argentina desvaloriza mais que os outros países porque é uma das economias mais expostas. Quando o governo quer fazer os ajustes que o mercado lhe exige, perde popularidade, e o mercado se excede. É a história dos mercados. Não se pode cobrar fidelidade dos mercados”, explicou Marina Dal Poggetto, economista da consultoria EcoGo.

– Como a Argentina chegou a esta situação?

Neste mês, a moeda argentina se desvalorizou mais de 10%, um cenário que poucos podiam prever. O governo insiste que a Argentina tem solvência e que a volatilidade cambial é conjuntural.

“O que aconteceu é que se cortou o crédito para a Argentina. No ano passado, a única coisa que importava para o mercado era a governabilidade, e ele financiou um aumento do desequilíbrio externo de 30 bilhões de dólares, 5% do PIB. É uma crise de liquidez. Em outubro passado, o mercado celebrou o resultado eleitoral (quando a aliança Cambiemos, de Macri, venceu nas legislativas). Mais que uma crise de confiança, foi um delírio de confiança. O financiamento do desequilíbrio é um aumento do endividamento do país”, disse Dal Poggetto.

– Como e por que teve início a corrida?

Desde o fim de abril, o peso pedia valor em relação ao dólar. Mas em 3 de maio chegou ao pior ponto, com uma desvalorização de 7,64%.

“Há um reconhecimento de que os investidores das Letras do Banco Central (Lebasc) querem sair e não há dinheiro para dar a eles. Por isso, agora vão pedir ao FMI”, apontou Pablo Tigani, da Universidade Argentina da Empresa e diretor da consultoria Hacer.

Rubini ainda apontou que houve uma “práxis ruim” da parte do governo, que anuciou que começaria a cobrar impostos sobre os luvros das Lebacs a partir de 26 de abril e não tomou medidas preventivas para evitar que os investidores saíssem.

“Em janeiro, as reservas internacionais se aproximavam de 64 bilhões de dólares, um recorde histórico. Nada indicava que isso ia passar. A partir de 25 de abril os fundos de investimento começaram a deixar o país. O público espera ver o que o Banco Central vai fazer, e o Banco Central não fez nada. Então investidores institucionais argentinos também começaram a deixar o peso e comprar dólares. O Banco Central reagiu com lentidão, e o público em geral se assustou”, explicou Rubini.


– Os problemas se resolvem com o FMI?

Ainda não foram estabelecidos o montante e as condições do crédito, mas o organismo expressou seu respaldo às políticas de Macri.

“Agora, o FMI ajudaria a acalmar os mercados e criar um bom ambiente. Não vejo um cenário de ‘corralito’ (bloqueio de dinheiro nos bancos diante da falta de dólares). Mas a taxa básica de juros a 40% imposta pelo Banco Central é recessiva, haverá desemprego e mais pobreza”, afirmou Tigani.

– Essa era uma crise anunciada?

“Havia sido dito que poderíamos bater de frente com a parede, e, na economia, as paredes se movem. Se os Estados Unidos subiam as taxas de juros, a parede se aproximava. Isso foi o que aconteceu, e batemos na parede”, disse Emmanuel Álvarez Agis, professor de Economia da Universidade de Quilmes.


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