Com a renúncia do primeiro-ministro Giuseppe Conte naufragou o governo do Movimento Cinco Estrelas (M5S), populista, e da Liga, de extrema-direita, que formaram uma coalizão desde as eleições de março do ano passado na Itália. A queda foi causada por Matteo Salvini, ministro do Interior e líder da Liga, que lidera a cruzada anti-imigração no país. Ele apresentou há duas semanas uma moção de desconfiança no Parlamento contra a sua própria coalizão. Seu objetivo é forçar eleições e conseguir o protagonismo em um novo governo.

Essa pretensão, no entanto, pode não se realizar. A Liga tem boa popularidade e lidera com folga as pesquisas eleitorais. Venceu as eleições para o Parlamento Europeu, em maio. Porém, pode não conseguir votos suficientes e nem conseguir alianças para governar, principalmente com o Força Itália, de direita, comandado por Silvio Berlusconi. O M5S, por outro lado, pode se aliar ao Partido Democrático, de centro-esquerda, do ex-premiê Matteo Renzi, e formar um novo governo. Com isso, Conte poderia voltar ao posto.

Apesar de algumas diferenças, os dois partidos têm em comum uma atitude antiestablishment. Quando formaram o governo há 14 meses, o MS5 teve a maior proporção de votos — 33%, contra 17% da Liga. No último pleito europeu, esses índices praticamente se inverteram. Jurista sem militância partidária, Conte tinha sido chamado para ocupar a chefia do governo e arbitrar os interesses das duas forças políticas. Com a queda de braço, saiu atirando. Acusou Salvini de “irresponsável”, por colocar o país em risco e procurar “apenas interesses pessoais”. A deterioração econômica e a crise dos refugiados darão o tom da disputa. O presidente Sergio Mattarella fará consultas para decidir se dissolve ou não o Parlamento e convoca um novo pleito. É mais um imbróglio para o país mais instável da Europa.