O aposentado Élcio, de 70 anos, ainda guarda o punhado de estilhaços e as balas que atingiram sua casa na madrugada de 14 de março, quando o bairro São Bernardo, em Campinas, foi transformado em praça de guerra. Cerca de 30 homens com armas pesadas, como metralhadoras .50, ocuparam o bairro e atiraram para todos os lados, enquanto explodiam a sede fortificada da empresa de transporte de valores Protege para roubar R$ 48 milhões. Em seguida, deixaram um rastro de veículos incendiados.

As marcas de quatro tiros estão na fachada da residência de Élcio – fora os tiros que estilhaçaram os vidros da janela e atingiram a porta do quarto. Morador há quase 50 anos do bairro, agora ele pensa em deixar o local. “Aqui o perigo continua.”

O vizinho, seu Pedro, mostra os sete tiros que atingiram a fachada de sua casa. “Os policiais se protegeram atrás do muro e atiravam na direção da Protege, mas o fogo que vinha de lá não tinha comparação, a polícia não conseguia avançar.” A casa fica a três quadras da empresa atacada. Desde o mega-assalto, a rotina do bairro predominantemente residencial e antes pacato, mudou radicalmente. “Não saímos mais à noite e, mesmo de dia, a gente anda na rua sobressaltado. Toda hora passa carro-forte e a situação é de pânico”, diz o aposentado Décio Duarte, de 70 anos.

Morador a duas quadras da Protege, naquele noite ele acordou com os estrondos. “Foram duas explosões e na hora falei para minha mulher: estão assaltando a Protege.” Uma fábrica de lingerie teve a fachada atingida por 12 tiros. O gerente conta que, desde o assalto, funcionários pediram transferência para outra unidade. “Meu nome? Não posso falar, é perigoso, eles podem voltar. Passa carro-forte a toda hora e ninguém mais está seguro aqui.”

Saída

Basta circular pelo bairro para ver casas e pontos comerciais com placas de “aluga-se” ou “vende-se”. O aposentado Claudio Silva, de 69 anos, conta que, depois do assalto, o vizinho se mudou para a casa dos filhos, em Atibaia. Silva mandou retirar a grade vazada e ergueu um muro maciço. Ele pôs o nome em dois abaixo-assinados à prefeitura que pedem a saída da Protege do bairro.

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A dona de casa Luzia Amador, de 70 anos, que também assinou o documento, disse que passa os dias trancada em casa com o marido. “Moramos aqui há 30 anos e eles (Protege) chegaram por último.”

A prefeitura afirmou ter criado um grupo de trabalho para discutir o problema. A Protege informou que não tem responsabilidade pelo ataque à base de Campinas e o assunto é exclusivo de segurança pública.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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