O filósofo da ciência Karl Popper formulou um dos principais teoremas da democracia. Trata-se do “paradoxo da tolerância”, também abordado pelos filósofos da política John Rawls e Michael Walzer. Escreveu Popper em “The open society and its enemies”: “tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da própria tolerância. Se estendermos o ilimitado até mesmo para aqueles que são intolerantes (…), então os tolerantes serão destruídos, e a tolerância juntamente com eles”. Essa é uma reflexão que hoje se impõe obrigatoriamente ao Brasil quando ouvimos o PT falar em “resistência” ao presidente eleito Jair Bolsonaro.

A democracia implica tolerância e a tolerância é fundamento da vida democrática. Jair Bolsonaro está legitimamente e legalmente eleito pelo voto de cinquenta e oito milhões de brasileiros. Os partidos que se organizam para fazer-lhe oposição dentro do Congresso estão a exercer democraticamente a tolerância (oposição, no Congresso, faz parte do jogo democrático). Já o PT, ao pregar a “resistência” que pode significar o abandono da legalidade e dos embates na Câmara e no Senado, reforça mais uma vez a sua totalitária prática de intolerância. Bolsonaro chega com legitimidade à Presidência do País — assim como seus apoiadores e opositores, igualmente mandatários, são legítimos nos atos parlamentares. A “resistência” apregoada aos quatro cantos pelo PT, fora do Congresso e em manifestações que quase sempre desaguam na desordem, essa é ilegítima. Cabe perguntar: “resistência contra o quê?”; “resistência contra o direito democrático de os brasileiros elegerem Jair Messias Bolsonaro?”; “resistência contra as urnas somente porque o PT não tolera frustrações nem derrotas?

É importante observar que a própria oposição parlamentar não quer parceria com o PT. Haja vista a fala do deputado federal André Figueiredo, líder do PDT. Ele observou que não dá mais para ceder ao “hegemonismo que o PT quer impor aos demais partidos” e que “ninguém quer mais continuar sendo um puxadinho do PT”. É imprescindível, portanto, ficarmos atentos para que a intolerância esquerdista do Partido dos Trabalhadores em relação às eleições não destrua a tolerância democrática. “Nós temos um modelo de oposição que é construtivo para o Brasil”, enfatizou Figueiredo.

Em “A theory of justice”, John Rawls frisa que “a sociedade tem o direito razoável de autopreservação (…)”. Ou seja: temos o direito de impedir que o PT, com sua intolerância, aniquile a tolerância. Assim escreveu, e muito bem escrito, o ex-ministro do Trabalho e ex-presidente do TST Almir Pazzianotto, em “O Estado de S. Paulo”: “espera-se que a oposição liderada pelo PT, inconformada com a derrota, não enverede pelo caminho da aventura. Radicalismo, nesse momento de esperanças, significa afrontar a vontade do povo que aspira viver em paz”.

 

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